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segunda-feira, 30 de setembro de 2024

Como colonizadores infectaram milhares de índios no Brasil com presentes e promessas falsas


Gravura de Rugendas retrata indígenas no início do século 19

Crédito, Biblioteca Nacional

Legenda da foto, Relatos registrados ao longo da história do Brasil apontam para o uso proposital de doenças como armas biológicas

 Author, Leonardo Neiva

 Role, De São Paulo para a BBC News Brasil

 

Um avião sobrevoa os campos e despeja dos céus brinquedos infectados pela gripe. Criadores de gado atraem uma tribo desavisada a um povoado que enfrenta uma grave epidemia. Fazendeiros largam estrategicamente pelo chão mudas de roupa contaminadas com varíola.

 São esses alguns dos relatos registrados ao longo da história do Brasil que apontam para o uso proposital de doenças como armas biológicas em batalhas contra povos indígenas e que teriam contribuído para dizimar grande parte das tribos que existiam originalmente no país.

 Índia YanomamiCrédito,

Ao descrever a investida de plantadores de cacau sobre as terras reservadas às tribos kamakã e pataxó, na Bahia do início do século 20, o antropólogo Darcy Ribeiro conta no livro Os índios e a civilização que os invasores lançavam mão de "velhas técnicas coloniais, como o "envenenamento das aguadas" e "o abandono de roupas e utensílios de variolosos onde pudessem ser tomados pelos índios".

Para Rafael Pacheco, pesquisador do Centro de Estudos Ameríndios da USP (Cesta), o uso de objetos contaminados foi o principal método usado para inocular doenças entre os indígenas desde o início da colonização.

"Além da similaridade de métodos, o conflito de terras era a motivação mais comum para esses episódios", explica.

O impacto devastador de doenças trazidas pelos europeus ao Brasil entre os índios é largamente conhecido. Além da baixa imunidade, os hábitos coletivos e a falta de tratamentos tornavam a população nativa especialmente vulnerável a doenças trazidas por estrangeiros, como conta o professor de antropologia da Universidade Estadual de Santa Cruz Carlos José Santos.

"Povos inteiros foram massacrados pelos contágios de doenças infecciosas. Aliás, muitos foram considerados extintos por elas, como é o caso dos goitacá", diz Santos, que é indígena e conhecido pelo nome Casé Angatu.

Doenças como varíola, sarampo, febre amarela ou mesmo a gripe estão entre as razões para o declínio das populações indígenas no território nacional, passando de 3 milhões de índios em 1500, segundo estimativa da Funai (Fundação Nacional do Índio), para cerca de 750 mil hoje, de acordo com dados do governo.

As causas dessas epidemias são comumente tratadas pela história como involuntárias. Há, no entanto, diversos relatos de infecção proposital de tribos indígenas no país: entre os timbira, no Maranhão, os botocudos, na região do vale do Rio Doce, os tupinambá e pataxó, na Bahia, os cinta-larga, em Mato Grosso e Roraima, entre vários outros.

Gravura de Rugendas retrata indígenas no início do século 19

Crédito, Biblioteca Nacional

Legenda da foto, Doenças como varíola, sarampo, febre amarela ou mesmo a gripe estão entre as razões para o declínio das populações indígenas no território nacional

Segundo a antropóloga Helena Palmquist, que pesquisa genocídio indígena no Brasil, o método de infecção era comum. "É uma estratégia muito difícil de provar, e os casos aconteciam em rincões, no Brasil profundo, lugares em que ninguém queria entrar."

"Essas histórias não são desconhecidas, só não são levadas a sério. Os casos não foram apurados e nenhuma medida foi tomada, esses episódios eram divulgados pelos órgãos oficiais como fatalidades", afirma Pacheco.

O massacre dos timbira

O caso mais bem documentado aconteceu com índios timbira no Estado do Maranhão, por volta de 1816. Na região, eles travaram, ao longo de décadas, uma guerra violenta contra criadores de gado, que vinham invadindo suas terras desde o início do século 19.

Em meio às constantes escaramuças, era comum que tribos selassem a paz com povoados brancos em busca de uma aliança contra povos inimigos. Foi o que aconteceu com os canela, ou kapiekrã, que, inicialmente derrotados em batalha pelos sakamekrã, acabaram por vencê-los com a ajuda de aliados brancos.

Em determinado ponto, a proximidade desses índios com os ditos civilizados foi tão grande que a tribo largou as terras onde vivia para morar junto a eles. Os brancos, por sua vez, esperavam receber uma ajuda financeira do governo para sustentar os novos agregados.

Esse auxílio, porém, nunca veio, fazendo com que os índios famintos se dispersassem e entrassem em conflito com o povoado. De um lado, a tribo buscava formas de sobreviver. Do outro, os fazendeiros se negavam a dividir seus parcos recursos, acusando os índios de roubar plantações e atacar o gado.

"Perpetraram sobre os habitantes de todo o distrito enormíssimas extorsões, furtando-lhe gado, matando os bezerros e devorando as roças de mantimentos com tão decisiva destruição que, exasperados, muitos dos referidos habitantes largaram as suas propriedades e fugiram da capitania", narra em relatório para a corte o capitão Francisco de Paula Ribeiro, que presenciou o conflito.

Índia Yanomami

Crédito, Fiona Watson/Survival

Legenda da foto, Em 2014, relatório da Comissão Nacional da Verdade identificou entre as causas da morte de cinco mil índios em Mato Grosso e Rondônia, a partir da década de 1950, 'aviões que atiravam brinquedos contaminados com vírus da gripe, sarampo e varíola', enviados por seringalistas, mineradores, madeireiros e garimpeiros, com a conivência do governo federal

Para dar cabo da ameaça indígena, os proprietários locais, sob o falso pretexto de uma guerra contra outra tribo, teriam atraído os canela à vila de Caxias, que na época sofria com uma epidemia de varíola.

Ali chegando, os índios nada receberam para comer e, ao tentarem saciar a fome nas plantações locais, foram imediatamente punidos. "Foram presos e espancados, inclusive mulheres e crianças, e dentre elas, a esposa do principal chefe da tribo, que, ao reclamar contra este tratamento, foi também fustigado", conta Darcy Ribeiro.

Caçados a tiros de espingarda, os que conseguiram escapar levaram consigo a doença. Assim, a varíola se espalhou entre as tribos da região, como conta Francisco de Paula. Até o ano seguinte, alcançaria populações indígenas a uma distância de 1,8 mil quilômetros dali.

Segundo o capitão, a falta de tratamento ou conhecimento dos índios sobre a doença ajudou a multiplicar a mortes.

"Não será fácil de fazer uma ideia segura de quantas mil almas nele terão perecido, uma vez que se sabe o extravagante método porque estes homens brutais haviam pretendido curar-se — que era deitando-se aos rios para refrescar-se.... ou tirando-se logo as vidas àqueles que apareciam com mais claros sintomas de semelhante moléstia", descreve.

As doenças e a miséria causada pela tomada de seu território reduziu tanto o números dos timbira, de acordo com Darcy Ribeiro, que estes se viram impossibilitados de lutar até mesmo pelas áreas reservadas a eles pelo governo após a pacificação da região.

"À custa de tramoias, de ameaças e de chacinas, os criadores de gado espoliaram a maioria deles e os remanescentes de vários grupos se viram obrigados a juntar-se nas terras que lhes restavam, insuficientes para o provimento da subsistência à base da caça, da coleta e da agricultura supletiva", diz Ribeiro.

Outros relatos

Feito em 1967 e só divulgado ao público 45 anos depois, o Relatório Figueiredo, produzido pelo procurador Jader Figueiredo a pedido do governo militar, relata o uso de vários tipos de violência contra os indígenas por membros do órgão que deveria resguardá-los, o Serviço de Proteção ao Índio (SPI).

Entre os assassinatos, abusos sexuais, casos de tortura e corrupção denunciados, o relatório ressalta as acusações de que uma tribo de índios pataxó do sul da Bahia teria sido levada à extinção por uma infecção proposital.

"Jamais foram apuradas as denúncias de que foi inoculado o vírus da varíola nos infelizes indígenas para que se pudessem distribuir suas terras entre figurões do governo", aponta o documento.

Em seu vasto relatório de 2014, a Comissão Nacional da Verdade identificou entre as causas para a morte de cinco mil índios cinta-larga em Mato Grosso e Rondônia, a partir da década de 1950, "aviões que atiravam brinquedos contaminados com vírus da gripe, sarampo e varíola", enviados por seringalistas, mineradores, madeireiros e garimpeiros, com a conivência do governo federal.

O pesquisador Rafael Pacheco cita também casos ocorridos nas últimas décadas no Paraná e Mato Grosso do Sul, em que proprietários de terra fizeram chover agrotóxico de um avião sobre as águas, terras e plantações de tribos avá-guarani, guarani e kayowa, causando sérios danos à saúde dos índios.

De suas andanças pelo Brasil entre os anos de 1816 e 1822, o naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire conta uma história ocorrida no vale do Rio Doce, onde um foragido da Justiça, acolhido de forma amigável pelos índios botocudos, teria dado a eles objetos infectados de varíola depois que um chefe indígena se apaixonou por sua filha.

"Muitos botocudos caíram vítimas dessa horrível perfídia", narra Saint-Hilaire, acrescentando que a prática era usual em outras regiões do país.

Maloca da comunidade Moxihatëtëma, formada por diversos telhados de palha voltados uns para os outros, com o centro aberto, em maio a clareira na floresta

Crédito, Funai Legenda da foto, Antropólogo critica vetos recentes aplicados à lei de proteção às comunidades indígenas em meio à pandemia do coronavírus

Transmissão não proposital e omissão

Para o antropólogo Casé Angatu, as doenças serviram desde o início aos interesses dos colonizadores.

"As contaminações, propositais ou não, serviram e servem para espoliar terras indígenas e para o contínuo genocídio dos povos originários", afirma.

Palmquist classifica inclusive como criminosa a política de aproximação de tribos indígenas instalada durante a ditadura, que teria sido diretamente responsável pelo extermínio de milhares de índios.

"Muito rapidamente, a Funai se transformou numa promotora da atração, pacificação e contato com as tribos indígenas, num momento em que já se sabia quais eram as consequências dessa política."

No Relatório Figueiredo, a omissão é também destacada como um dentre os vários crimes cometidos por membros do SPI. "A falta de assistência, porém, é a mais eficiente maneira de praticar o assassinato", diz o documento.

Nesse sentido, Pacheco lembra da desestruturação do sistema de atenção à saúde no Brasil durante a ditadura, especialmente na década de 1970, num período em que a política de aproximação das comunidades indígenas funcionava a todo vapor.

"A ausência de equipes e estruturas de assistência médica em momentos de extrema necessidade deve entrar sim na conta dos agentes públicos, dentre eles o presidente, na medida em que ela expressa uma política do governo de violar sistematicamente direitos indígenas", declara o pesquisador.

fonte: BBC NEWS

https://www.bbc.com/portuguese/brasil-53452614

 

 

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

Arte e Música Espírita AME - 35 Anos

 


Grupo AME

O Grupo Arte e Música Espírita, mais conhecido como Grupo AME, é um dos grupos musicais espíritas mais antigos ainda em atividade no Brasil. Criado em 1989 por jovens que freqüentavam a Mocidade Espírita Joanna de Ângelis, da Federação Espírita do Estado do Ceará, o grupo surgiu no mês de março daquele ano, logo após a realização do I AME - Arte e Música Espírita de Fortaleza. Já em 1990, o AME gravou o K7 Sementes de Amor, e, em 1993, o disco Sementes de Amor II, primeiro LP de música espírita do Brasil. Em 1996, o AME lançou o Chamado, primeiro trabalho do grupo lançado em CD e K7, e também o segundo CD de música espírita lançado no país. Em 1998 foi a vez do Parnaso, também lançado em CD e K7, composto por poemas do livro Parnaso de Além-Túmulo de Chico Xavier, musicados por Tarcísio Lima e Gleika Veras. No ano seguinte, em comemoração aos dez anos de existência do grupo, o AME lança o CD Sementes, compilando em um único disco as melhores faixas dos seus dois primeiros trabalhos, remasterizadas por Marcílio Mendonça. Seu trabalho mais recente foi o disco Traduções, lançado em 2004, reunindo composições de Tarcísio Lima, Marielza Tiscate e Gleika Veras. 

A Estética Musical Espírita

Ao longo de sua trajetória, o Grupo AME, assim como a maior parte dos grupos musicais espíritas, manteve-se ligado de forma relativamente homogênea a uma estética que transita entre o hinário católico e a música gospel. Por razões até hoje pouco investigadas por antropólogos e sociólogos, a música espírita, que surgiu nos conturbados tempos iniciais de chegada e difusão do espiritismo no Brasil, pouco se diferenciou das orientações estéticas que lhe serviram de forte influência inicial. Se num primeiro momento as canções eram de tal forma espelhadas no hinário católico que, a não ser pelas referências na letra a conceitos espíritas como "Consolador Prometido", "Terceira Revelação" e "reencarnação", podiam inclusive confundir-se com elas, ao longo dos anos o surgimento da música gospel, com um apelo mais pop, influenciou decisivamente a música espírita a um redirecionamento nesse sentido, sem que, contudo, fosse deixada de lado a influência católica. Além disso, a música New Age, geralmente instrumental e utilizada como som ambiente para meditações e relaxamentos, teve seu reflexo no trabalho de muitos compositores espíritas brasileiros.

A evolução do Grupo AME reflete, em linhas gerais, esse panorama de diálogo com a tradição musical religiosa do Brasil. Seus trabalhos iniciais, Sementes de Amor I e II, são compostos por canções lentas de arranjos simples, cantadas em uníssono e com letras recheadas de expressões do vocabulário cristão como "Jesus", "Senhor", "perdão", "servir" e "irmão". Porém, ao mesmo tempo em que se nota essa clara identificação com o cancioneiro cristão, já se evidencia também a presença de sinais claros de diferenciação em relação a ele.

DISCOGRAFIA

 Chamado

  1. Chamado (Marielza Tiscate)

  2. Vinha de Luz (Francisco Cajazeiras & José Airton Cajazeiras)

  3. Súplica a Jesus (Adriano Gomes)

  4. Mestre Amado (Waldir Júnior & Victor Holanda)

  5. Volta (Tarcísio Lima, Arlindo Araújo, Mário Mesquita & Marcos Wirtzbiki)

  6. Espírito de Arte (Socorro de Fátima)

  7. Recorramos a Jesus (Adriano Gomes)

  8. Cantando o Teu Natal (Tarcísio Lima & Maria Dolores, psicografado por Chico Xavier)

  9. Vôo (Movimento Espírita)

  10. Compromisso (Gilda Bakker)

  11. Acreditar (Hércules Bruno)

  12. Sorriso (Marielza Tiscate)

  13. Cristo Espera por Ti (Jeová de Aquino)

  14. Hino ao Espiritismo (Sebastião Avelino de Macedo & Nelson Kerensky)

Parnaso

  1. Parnaso de Além-Túmulo (João de Deus & Gleika Veras)

  2. Eterna Mensagem (João de Deus & Tarcísio Lima)

  3. Ajuda e Passa (Alberto de Oliveira & Gleika Veras)

  4. Alma Livre (Cruz e Souza & Tarcísio Lima)

  5. Incognoscível (Antero de Quental & Tarcísio Lima)

  6. Sombra e Luz (Casimiro Cunha & Gleika Veras)

  7. Mensagem Fraterna (Auta de Souza & Gleika Veras)

  8. Temos Jesus (Abel Gomes & Gleika Veras)

  9. Bilhetes (Belmiro Braga & Tarcísio Lima)

  10. Porta da Agonia - I - Trágico Segredo (Batista Cepelos & Tarcísio Lima)

  11. Porta da Agonia - II - Lamento (Batista Cepelos & Tarcísio Lima)

  12. Porta da Agonia - III - Nova Aurora (Batista Cepelos & Tarcísio Lima)

  13. Ao Homem (Augusto dos Anjos & Tarcísio Lima)

  14. Espiritismo (Casimiro Cunha & Oliver, psicografada por Tarcísio Lima)

  15. Carta Íntima (Auta de Souza & Tarcísio Lima)

  16. Marchemos (Castro Alves & Tarcísio Lima)

Sementes

  1. Sempre a servir (Sílvia Ximenes)

  2. Hino a Bezerra de Menezes (Movimento Espírita)

  3. Depende de você (Jeová de Aquino)

  4. Prece (Antônio Carlos Freixo)

  5. Rumo ao Pai (Jeová de Aquino)

  6. O grande papel (Gleika Veras)

  7. Música (Gerly Anne & Gleika Veras)

  8. Compromissos (Tarcísio Lima)

  9. Doutrina Espírita (Sidrônia Maria)

  10. Sem lágrimas de dor (Adonai Mello)

  11. Adeus (Hércules Bruno & Auta de Souza, psicografado por Chico Xavier)

  12. Além da noite (João Cabete)

  13. O Senhor vem (Socorro de Fátima & Auta de Souza, psicografado por Chico Xavier)

  14. Nova Geração (Adriano Gomes)

  15. Certeza (Luciano Klein & Expedito Brito)

  16. Seres imortais (Adriano Gomes)

  17. Existir (Gleika Veras)

  18. Prelúdio para a evolução (Movimento Espírita)

  19. Quedas e acertos (Tarcísio Lima)

  20. Acredite no amor (Egerton Telles & Expedito Brito & Francisco Torres)

 

Traduções

  1. Caminhante

  2. Alma Irmã

  3. Esquece

  4. O Poeta

  5. Amigos de Jesus

  6. Cantilena

  7. Resposta de Mãe

  8. Roda Festiva

  9. O Eterno Enigma

  10. A Paz

  11. Sem Medo

  12. Antes

  13. Fim dos Tempos

  14. Tu que Choras

  15. Traduções

  16. Ecos da Boa-Nova

    Fonte: https://espirita.fandom.com/pt/wiki/Grupo_AME