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sexta-feira, 23 de agosto de 2013

ENTENDENDO O CRIACIONISMO BÍBLICO VERSUS O EVOLUCIONISMO

O primeiro livro da Bíblia, a Gênese mosaica, traz em seu primeiro capítulo a história da criação. No capítulo 1, vers. 1 encontramos: “No princípio criou Deus os céus e a terra”. Já no capítulo 2, vers. 7 podemos observar a criação do homem: “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou-lhe nas narinas o fôlego da vida; e o homem tornou-se alma vivente”. Ainda no mesmo capítulo 2, mas nos vers. 21 e 22 encontramos o aparecimento da mulher: “Então o Senhor Deus fez cair um sono pesado sobre o homem, e este adormeceu; tomou-lhe, então, uma das costelas, e fechou a carne em seu lugar; e da costela que o Senhor Deus lhe tomara, formou a mulher e a trouxe ao homem”.

Todos já devem ter ouvido, algum dia, esta história bíblica da criação dos céus, da terra, dos animais, do homem, da mulher, etc. À isto dá-se o nome de Criacionismo, ou seja, para toda criação houve um Criador, e Este seria Deus.

Até o século 19, o ocidente tinha o relato bíblico como a única explicação para o surgimento do planeta e de tudo que há nele, apesar de que na época, já haviam ocorrido algumas manifestações contrárias a esta forma de pensar, mas poucos tinham coragem de ir contra a influência da Igreja Romana.

Em 1859, o inglês Charles Darwin publicou o livro “A origem das espécies”. Antes dele, como foi dito anteriormente, outros cientistas já haviam sugerido que os seres vivos mudam ao longo do tempo. Mas Darwin, que fez observações de fósseis, plantas e animais durante uma viagem ao redor do mundo, foi o primeiro a propor uma explicação lógica para a evolução. Nascia aí uma visão científica do aparecimento do homem e de todos os animais: o Evolucionismo.

Segundo Darwin, os seres vivos evoluíram ao longo dos anos dando origem ao homem, aos animais e às plantas que observamos no meio ambiente. Disso decorre que as espécies mais bem adaptadas às mudanças do ambiente sobreviveriam e transmitiriam para os descendentes esta melhor adaptação. Enquanto que as espécies que não obtiveram esta adaptação foram desaparecendo. É por isso que até hoje encontramos fósseis de animais que viveram a milhares ou a milhões de anos atrás.

Pode-se, a partir daí, perceber o embate que apareceu entre Criacionismo e Evolucionismo. De um lado, religiosos classificando os cientistas de hereges. De outro, toda uma comunidade científica se aprofundando sobre a questão da formação do Universo, do planeta Terra e dos seres vivos.

Para alguns teólogos, o planeta teria em torno de 6500 anos. Para os cientistas, a média seria de 5 bilhões de anos. Hoje não há dúvida sobre esta datação. As técnicas radiológicas, que usam a chamada meia-vida dos elementos radioativos, mostram-nos que é impossível uma idade tão curta para o planeta como querem afirmar os Criacionistas.

A igreja Católica, depois de relutar tanto com os cientistas, já aceita a evolução das espécies como verdade irrefutável. A mesma Igreja que outrora combateu o Evolucionismo de Darwin, hoje prega que a história bíblica da criação é uma alegoria que deve ser discernida pelas luzes da Ciência.

O Espiritismo desde sua fundação com o lançamento de “O livro dos Espíritos” já demonstrava uma posição evolucionista, sem para isso tirar Deus da temática da Criação.

A igreja Católica de hoje e o Espiritismo possuem um posicionamento bem semelhante quanto à formação do Universo. As duas correntes religiosas aceitam as descobertas científicas, mas não aceitam o aparecimento de tudo como obra do acaso. 

Nós espíritas sabemos que Deus é o princípio de tudo, mas nem por isso precisa derrogar Suas Leis e criar tudo como um passe de mágica. Se assim fosse, Deus não seria Deus, seria um mandraque que através de uma palavra criaria tudo que existe no Universo e no planeta Terra. Temos a convicção de que a Ciência tem feito seu papel ao desvendar como se originou a vida no planeta. A evolução é um fato, e contra fatos não existem argumentos.

O que nos impressiona hoje, apesar de todo avanço tecnológico, é que existem pessoas que não abrem mão de acreditar no Criacionismo bíblico conforme encontramos literalmente na Gênese mosaica. Está incluída neste grupo a maioria das denominações protestantes. Há inclusive um forte movimento nos EUA que tenta abolir o ensino da Evolução nas escolas americanas. No Aquário da Flórida, na cidade de Tampa, não há aquela arvorezinha do tempo mostrando a escala evolutiva dos animais ali expostos. A direção do Aquário informa que visitantes americanos que defendem o Criacionismo bíblico se sentem insultados com a escala evolutiva. É uma questão político-religiosa, explica a direção do Aquário.

Se fizermos uma análise destes criacionistas bíblicos, chegamos à conclusão que para os que encaram a Bíblia como um livro infalível, não há como aceitar a história da Criação como uma alegoria, levando em conta o contexto histórico-cultural do povo hebreu. Se assim eles fizerem, terão também de aceitar outras passagens como ficção ou entender que aquilo fazia parte do costume de um povo. Sendo assim, eles teriam que concordar que a proibição de Moisés em não consultar os mortos é na verdade uma mensagem de acautelamento com as comunicações mediúnicas, e não obra de feiticeiro, como muitos teimam em nos atacar. Quando alguém é mergulhado anos numa cultura religiosa, sendo bombardeado com informações de que a Bíblia é a palavra de Deus e tudo que está literalmente escrito é verdade pura e absoluta, dificilmente aceitará as conclusões das pesquisas científicas.

Hoje percebemos pelos avanços tecnológicos que não é possível conciliar a Bíblia levada ao pé da letra com a Ciência. Talvez seja por isso que dentro de famílias religiosas tradicionais tenham saído muitos incrédulos e céticos. Agora mais do que nunca é necessário que estas Religiões mais tradicionais repensem sobre o que está sendo pregado aos seus jovens para que não tenham que sofrer uma reforma na base da força. 

O Espiritismo, muito pelo contrário, está lado a lado com a Ciência seguindo a orientação de Kardec: “Ou o Espiritismo caminha com a Ciência, ou não sobreviverá”. Não podemos esquecer que as descobertas científicas também vêm de Deus, pois nada é revelado ao homem sem que antes seja aprovado pela Espiritualidade Superior. O problema é que, infelizmente, por causa do livre-arbítrio, nós seres humanos utilizamos para o mal aquilo que foi criado primariamente para o bem. Mas isso é uma outra história e que fica para uma outra vez...


Autor: Anderson Luiz da Silva
Membro da União Espírita Beneficente Jesus, Maria e José.


texto - www.panoramaespirita.com.br/novo/artigos
imagem - wn.com

terça-feira, 13 de agosto de 2013

DIFICULDADES NA CASA ESPÍRITA



DIFICULDADES NA CASA ESPÍRITA
Joana Abranches
(Assistente Social, escritora e Presidente da Sociedade Espírita Amor Fraterno –     Vitória – ES)

Uma das coisas mais complexas no cotidiano de uma Casa Espírita é administrar as diferenças comportamentais entre os trabalhadores. Aqui e ali, por um motivo ou por outro, pipocam os atritos e melindres, muitas vezes encobertos pelo silêncio em nome da “caridade”mas evidentes nos olhares atravessados, nos recadinhos indiretos e, não raro, no afastamento inexplicável daquele companheiro que parecia tão entusiasmado... Quando chega a este ponto é que a guerra de persona já atingiu o seu ponto máximo.

Não desanimemos. Onde há gente há problema. Graças a Deus!... Porque conviver significa oportunidade impar de crescimento. É preciso apenas saber identificar, respeitar e integrar as diferenças, repensando o conceito ilusório de que para figurar no seleto rol dos “escolhidos”, todos têm que estar aptos e disponíveis, todo o tempo, a todo o tipo de tarefa na Casa Espírita. Esteriótipos solapam a autenticidade e favorecem a hipocrisia.

Somos diferentes e isso obedece a um propósito Divino. Aquilo que é fácil pra mim já não é para o outro e vice-versa. Sabemos que é a diversidade das flores que confere harmonia e beleza a um jardim, porém tudo passa pelo paisagista, que traçou canteiros, combinou cores e formas, considerando, sobretudo, os níveis de resistência e fragilidade de cada planta para então dispor a sua localização. Também na Casa Espírita pessoas com personalidade, maturidade e aptidões diversas podem conviver harmonicamente em sua diversidade, mas o “paisagismo” cabe aos dirigentes.

Pensemos em nossos grupos. Sempre encontraremos neles um trabalhador tipo “pau pra toda obra.” Dinâmico e disponível, este irmão é perfeito para tarefas práticas. Mas não o chame para reuniões de planejamento porque ou não vai comparecer ou vai cochilar. Já o tipo“certinho”é racional, organizado e faz questão de tudo “preto no branco”. Quem melhor para a administração? Afinal, formalizar e controlar é com ele mesmo.

Tem também o“artista”. Afeito ao lúdico, ele não dispensa a música, o teatro e outras manifestações de arte em tudo o que faz. Sua sensibilidade enche as reuniões comemorativas daquela emoção e entusiasmo tão necessários para levantar o ânimo. Ideal para trabalhar com jovens e crianças, este companheiro sacode a mesmice, motiva a equipe e estimula como ninguém a integração fraterna. Temos ainda o introspectivo, o extrovertido, o afoito, o ponderado, o questionador, o acomodado, o “modernoso”, o conservador e por aí vai. E quem de nós se aventuraria a discorrer sobre a maior ou menor importância desse ou daquele trabalhador, conforme os perfis aqui relacionados?

Na verdade, todos são insubstituíveis e indispensáveis em suas peculiaridades porque - enquanto não conseguimos ser perfeitos – o segredo é nos valer das próprias imperfeições para potencializar o trabalho. Enquanto uns sonham outros ponderam, uns planejam outros concretizam, uns organizam outros adornam. E lá vamos nós. Lidando com as diferenças e garantindo a continuidade da obra. Enquanto isso vai se aprendendo a ceder, a ser voto vencido, a discordar sem “rosnar” e tantos outros exercícios de reforma íntima.

Ninguém espere mar de rosas. Impossível não haver conflito onde existe diversidade. Aqui é aquele companheiro veterano que rejeita as sugestões dos recém-chegados porque se julga o detentor absoluto da experiência; Ali é outro que chega querendo mudar tudo, desconsiderando aqueles que ali já estavam muito antes da sua chegada, construindo o que ele encontrou; Acolá é aquele que quer colocar o mundo dentro da Casa Espírita; Mais além é aquele outro que quer tirar a Casa Espírita do mundo... E outros tantos desafios. Cabe às lideranças observar, intervir e pacificar. Administrando conflitos prevenimos cisões, pois as relações são a viga mestra dos grupos e quando abaladas tudo vem abaixo.

Uma forma eficaz de prevenir é realizar constantes avaliações das atividades. Mas avaliar não é colocar os companheiros no paredão. Avaliar é reunir a equipe periodicamente para analisar o que está sendo feito, em clima de leveza e fraternidade, discutindo dificuldades e possibilidades com vistas a manter ou corrigir a rota onde for preciso.

            Mas é também imprescindível repensar as decisões de cima para baixo. Não raro a diretoria decide e os demais trabalhadores executam, sem que de alguma forma tenham sido consultados enquanto elementos fundamentais para as realizações. Questionar nem pensar, sob pena de inclusão imediata no tratamento de desobsessão, diante da afirmativa paternalista que “– o nosso irmão está precisando muito de preces”... Esta é a impiedosa pena de descrédito “caridosamente” imputada àqueles que ousam “subverter” a ordem vigente. Estrategicamente, neutraliza-se a ovelha rebelde para apascentar o rebanho.

Diante disso a gente se pergunta: Quando é que nós espíritas vamos conseguir distinguir autoridade de autoritarismo? Quando é que vamos deixar de medir o valor dos companheiros pelos cargos que ocupam ou pelos títulos que ostentam? Quando é que vamos parar, enquanto dirigentes, de usar os trabalhadores por mão de obra passiva para projetos personalistas? Quando deixaremos de tomar questionamentos legítimos como “influência de obsessores”? É urgente abandonar tais heranças reacionárias do passado e avançar para a postura ética e fraterna que se espera de uma liderança espírita.

Um verdadeiro líder busca sempre o entendimento amoroso - em nível individual ou coletivo – quando os problemas surgem. Em momentos de crise não silencia, nem impõe, dialoga. Omissão por medo de provocar ruptura é um equívoco. Se não criamos coragem de intervir junto aos conflitos, contribuiremos para que se avolumem. Quando menos se espera, lá estão eles, substituindo o saudável prazer de estar junto pela obrigação do compromisso assumido “do lado de lá”, esvaziando grupos e corações.

Liderança é responsabilidade. É ter claro o papel que nos compete como mediadores e aglutinadores; Como irmãos de caminhada e não como “donos das almas” ou “da causa”, porque senão, à menor contrariedade, vamos ser os primeiros a fazer as malas e sair por aí atrás do utópico grupo ideal e - o que é mais grave - arrastando conosco ou deixando para trás “seguidores” divididos e desnorteados.

As chances de acertar são infinitamente maiores quando nos dispomos a exercitar esse tal amor, que não é algo tão longínquo assim; Que começa pela valorização dos pontos positivos do outro, em detrimento dos negativos que possa ter; Pelo exercício da tolerância, não por amarmos todos de forma igual - porque isso não acontece nesse estágio em que nos encontramos - mas por reconhecer em nós muitas mazelas a serem toleradas. 

Se não buscarmos nutrir pelos companheiros esse amor possível, continuaremos a brincar de espírita bonzinho e, no fundo, só nos aturando, assim como qualquer profissional no seu ambiente de trabalho. Mas se existir afeto, a gente cede aqui, cede ali ou não cede -porque existem coisas que não dá para transigir -  mas diz o que tem que dizer de forma firme, porém cuidadosa e assim, lembrando Jesus, vamos conversando com o nosso irmão em reservado “e se ele vos entender”- diz o Mestre - ”então tereis ganho o vosso irmão”.

Difícil?... Mas quem foi que disse que é fácil evoluir?... E que se evolui sem conviver?

Pensemos nisto!