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sexta-feira, 20 de abril de 2012

DOENÇA DE ALZHEIMER E SEUS ASPECTOS ESPIRITUAIS



Definição e Anotações sobre a Psicopatologia da Doença de Alzheimer

O “Mal de Alzheimer”, ou Doença de ALZHEIMER, é um quadro demencial, irreversível, com solapamento progressivo, principalmente, da MEMÓRIA do paciente e de outras funções cognitivas (intelectuais).
Em geral, a doença começa a partir dos 65 anos, mas há vários casos de início precoce, isto é, a partir dos 45 anos.
Para entendermos bem as características e evolução dessa Doença é preciso tentar explicar o que se denomina LEI DA REGRESSÃO MNÊMICA DE RIBOT... Segundo esta, quando uma pessoa apresenta uma alteração mnêmica (da memória) “orgânica”, primeiramente é comprometida a “memória de fixação” e “memória de curto prazo”, ou seja, a pessoa começa a se esquecer de acontecimentos ocorridos mais recentemente e, com o progredir da Doença, a memória para fatos mais antigos também será deteriorada. Outro aspecto da “Lei de RIBOT” é que as funções psíquicas mais complexas são afetadas, também, mais precocemente do que as funções mais simples. É por isso que, no início da Doença de ALZHEIMER o paciente costuma se “perder” em via pública ou mesmo esquecer-se de fatos os mais corriqueiros, pois a memória recente estando comprometida, o paciente fica “desorientado” no tempo e no espaço; além disso, o paciente costuma apresentar alterações “ético-sociais” -, o “pudor” (que é uma função complexa) fica comprometido; conseqüentemente, não é raro indivíduos bem educados apresentarem sintomas como despir-se na frente de uma multidão de pessoas, não conseguindo ajuizar eticamente a sua conduta.
A propósito, certa vez, tratamos um paciente com Doença de ALZHEIMER cujo primeiro sintoma foi urinar em via pública, exibindo a genitália para os transeuntes, no entanto, era um Sr. com um passado de moral ilibada e muito responsável e elegante...
Enfim, a Doença de ALZHEIMER vai afetando, progressivamente, as funções corticais do paciente, pois o que acontece é que há uma ATROFIA DO CÉREBRO do paciente e, por isso mesmo, as funções cognitivas (intelectuais) e até motoras (de movimento) são deterioradas pela doença, irreversivelmente, porque as células cerebrais não se regeneram, uma vez atrofiadas não são substituídas por outras, íntegras; por isto, diz-se que o tecido cerebral é “tecido nobre”, isto é, as células lesionadas não são substituídas. Exatamente como varias pessoas vivenciam: “na parte física vemos que a pessoa vai definhando, perdendo o movimento e a noção das coisas.”

Visão espírita do “Mal de Alzheimer’

Na época do lançamento de O LIVRO DOS ESPÍRITOS (OLE), de ALLAN KARDEC (1857), não se conhecia a fisiopatologia da Doença de ALZHEIMER, por isso, a Codificação não se refere à Doença especificamente, porém, podemos extrair algum conhecimento sobre o que acontece com o Espírito da pessoa com essa Doença se analisarmos bem a resposta à questão
156 de OLE e, com tal análise, não podemos nos furtar a um melhor entendimento da natureza e propriedades do PERISPÍRITO e suas correlações com a MEMÓRIA e o TEMPO,,,
Assim, leiamos a questão 156 de OLE e a primeira parte da resposta:
“A separação definitiva entre a alma e o corpo pode verificar-se antes da cessação completa da vida orgânica?
“- NA AGONIA, ÀS VEZES, A ALMA JÁ DEIXOU O CORPO, QUE NADA MAIS TEM DO QUE A VIDA ORGÂNICA (...)”.
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MORTE CORPORAL E ESPÍRITO
O Espírito desliga-se definitivamente do corpo porque este está morto, mas
não é o desligamento do Espírito que causa a morte do corpo
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Parece-nos, que nas doenças crônicas em geral, que afetam o cérebro (como é o caso da Doença de ALZHEIMER), estando este deteriorado, ele não mais reagiria ao comando do Espírito - a vida na doença de ALZHEIMER se resumiria, praticamente, à vida orgânica, VEGETATIVA, “a alma já deixou o corpo”, embora não definitivamente, pois isto só ocorre na desencarnação...
A Sra. poderia, talvez, argumentar que um corpo não poderia viver sem alma, o que não seria verdade... O que mantém a vida corporal é o “FLUIDO” VITAL e não o Espírito, a vida só se extingue pela exaustão dos órgãos e não pela ausência do Espírito (cf. resp. à questão 68 de OLE). É preciso que se repita: o Espírito desliga-se definitivamente do corpo porque este está morto, mas não é o desligamento do Espírito que causa a morte do corpo...
Obviamente, ainda há uma ligação, muito tênue, entre o Espírito e o corpo de uma pessoa com Doença de ALZHEIMER, mas o rompimento de tal ligação só não é definitivo porque a pessoa ainda não desencarnou, pois o Espírito nada mais tem a fazer estando o cérebro sem NENHUM controle seu... Sabemos que a alma desprende-se do corpo, pouco a pouco, gradativamente, nas doenças orgânicas, crônicas (cf. se depreende da resposta à questão 155-A de OLE) e, num grau avançado da Doença, acreditamos que a alma está quase totalmente liberta do corpo.
Como um paciente com Doença de ALZHEIMER sente-se interiormente? Parece-nos que isto irá depender não só da evolução espiritual da pessoa, como também, do estágio evolutivo da doença, da demência. Quando as funções cognitivas (intelectuais) estão seriamente comprometidas, a pessoa nada sente, isto é, não há nenhuma repercussão ESPIRITUAL do que se passa no corpo... Aliás, KARDEC afirmava mais ou menos isto, em outras palavras, quando disse que de nada adianta ser um bom violinista se o violino estiver danificado. Como tocar boa música, nessa situação?
Prezados Srs. leitores e leitoras, o grande sofrimento na doença de ALZHEIMER é dos familiares e da Sociedade, não é do paciente. É muito duro, às vezes desesperador mesmo, ver um ente querido, um ser humano, desconhecer seus próprios parentes, não saber pronunciar seus nomes (na afasia motora) e, às vezes, nem reconhecer as coisas do ambiente (agnosia) e nem ter coordenação para os mais simples movimentos úteis, como vestir uma roupa (apraxia), certamente, como dizem alguns: “é um sofrimento ver uma pessoa tão dinâmica ir definhando aos nossos olhos.”... Aí está: a doença de ALZHEIMER é uma PROVA, extremamente difícil para os familiares e exige muita resignação e muito Amor e, antes de tudo, a certeza na IMORTALIDADE DA ALMA e de sua INDIVIDUALIDADE após a morte e confiança na Providência Divina e aí está a “vantagem” de ser espírita, se é que assim podemos nos exprimir, porque a Doutrina Espírita é Consoladora justamente porque nos dá essa CERTEZA (através de FATOS positivos) nas respostas a questões existenciais que todos já fizeram algum dia: por que aqui estamos? Para onde vamos? Por que sofremos?...
Enfim, cuidar muito bem dos pacientes, embora acreditemos que não é fácil, mas as dificuldades são postas em nossa vida para crescermos espiritualmente e, quem sabe, se este gênero de prova não foi solicitado pelos familiares. antes de reencarnar?!
A nosso ver os familiares devem ficar tranqüilos quanto ao suposto sofrimento dos pacientes, pois, praticamente ele não existe, e aí é que devemos agradecer à Providência Divina, pois, na maioria das vezes o próprio paciente não percebe o seu comprometimento cognitivo, nem se dá conta que sua memória está gravemente comprometida. Se eles forem um Espírito com certa elevação, devem estar sentindo-se muito melhor que os familiares, disto temos absoluta certeza, pois estando o Espírito dela com uma tal emancipação, as coisas terrenas praticamente não a afetariam.
Onde ficarão “impressas” as vivências presentes e passadas?

Como dissemos, o sintoma principal na Doença de ALZHEIMER é a deterioração da MEMÓRIA e tem havido muita distorção doutrinária, a nosso ver, em relação à questão do PERISPÍRITO, que, para alguns, seria o “arquivo” das nossas experiências terrenas.

O PERISPÍRITO, A MEMÓRIA E O TEMPO

Existem outras obras, além das básicas , da DOUTRINA ESPÍRITA? Creio que não, pois não me consta que a Espiritualidade Superior tenha se manifestado doutrinariamente, depois de KARDEC, com a “concordância universal dos seus ensinos”; eis, talvez, uma das causas dos aspectos polémicos citados por alguns. Há um adágio, cuja autoria eu desconheço, do qual gosto muito: quando os “espíritas” igrejeiros insistirem, estereotipadamente, em que FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO, que, aliás, é uma verdade; poderemos complementar com o adágio: - E FORA DA CODIFICAÇÃO NÃO HÁ DOUTRINA ESPÍRITA...

Perispírito - Matéria e Espírito - Densidade e ponderabilidade da matéria

Como vários estudiosos dizem, o “perispírito” possui características “especiais” de DENSIDADE, PONDERABILIDADE e PLASTICIDADE. Está perfeito! Perguntaríamos, então, ao leitor: conhecemos a densidade e a ponderabilidade do “perispírito”?!...Embora seja “matéria”, desconhecemos a natureza íntima do perispírito. Por que? Porque só conhecemos, aliás não completamente, a matéria “terrena”. As qualidades de EXTENSÃO, IMPENETRABILIDADE e que IMPRESSIONA OS SENTIDOS cessam, quando desejamos conceituar a matéria constitutiva do perispírito (cf. resposta à questão 22 de O Livro dos Espíritos de ALLAN KARDEC).
Portanto, só podemos definir a “matéria”, muito genericamente, como “o liame que escraviza o espírito; é o instrumento que ele usa, e sobre o qual, ao mesmo tempo, exerce a sua ação” (cf. resposta à questão 22-A, op. cit.).
A matéria com que lidamos na Terra possui densidade, ponderabilidade, contudo, a matéria considerada como derivada do “fluido universal” é IMPONDERÁVEL para nós, encarnados e imperfeitos. E isso é exposto claramente em resposta à questão 29 (op. cit.), diz ela: “A ponderabilidade é atributo essencial da matéria? E a resposta: “- Da matéria como a entendeis, sim; mas não da matéria considerada como fluido universal. A matéria etérea e sutil que forma esse fluido é imponderável para vós, mas nem por isso deixa de ser o princípio da vossa matéria ponderável.”. A seguir, KARDEC comenta:
“A ponderabilidade é uma propriedade RELATIVA (o destaque é nosso). Fora das esferas de atração dos mundos, não há peso, da mesma maneira que não há alto nem baixo.”
É interessante ressaltar que a ponderabilidade dos corpos depende, necessariamente, dos fatores cósmicos atuantes do mundo em que se encontram; da lei de gravidade, por exemplo, em nosso planeta.
Vários cientistas estudaram a questão da MATÉRIA, tais como: CHARLES RICHET, MORSELLI, CESARE LOMBROSO, W. J. CRAWFORD, WIILLIAM CROOKES, etc., inclusive estudaram os fenômenos de “ectoplasmia”. Contudo, tais estudos foram realizados, fundamentalmente, em MÉDIUNS, isto é, com “fluidos animalizados” do médium em “conjunção” com os da Espiritualidade desencarnada. Assim, W. CROOKES no seu notável estudo da médium FLORENCE COOK na qual se manifestava principalmente o espírito de KATIE KING, além dos estudos com a médium EUSÁPIA PALADINO realizados por RICHET, LOMBROSO, CRAWFORD e outros... Todas essas experiências, realizadas em geral por cientistas, a princípio, céticos em relação ao mundo espiritual, serviram para a comprovação da realidade do mundo espiritual e pouco mais se conseguiu. A propósito, na obra “O Psiquismo experimental”, ALFREDO ERNY relata que escreveu ao Sr. CROOKES, em 1892, e perguntou-lhe se KATIE KING ter-lhe-ia feito revelações sobre o outro mundo, recebendo do ilustre químico a resposta:
“Tive muitas conversações com KATIE KING, e naturalmente lhe fiz várias perguntas a respeito do outro mundo. As respostas não satisfizeram. Geralmente ela dizia que estava proibida de dar essas informações.”
Portanto, vários leitores leram algumas obras atuais estabelecendo as “correlações do Espírito com a matéria”, pontificando a natureza eletromagnética dessa matéria, tenham muito cuidado; pois no Espiritismo, infelizmente, há muitos espíritos pseudo - sábios, embora a Física moderna têm lançado muita luz sobre tais obscuros problemas. Creio que deverá demorar muito para que conheçamos, aqui na Terra, a densidade e ponderabilidade do perispírito; talvez isto ocorra com a regeneração da Terra... Talvez... Talvez... Por enquanto, há boas hipóteses-de-trabalho, nada mais, o que já é um avanço considerável...

Perispírito e participação na elaboração do pensamento e no desenvolvimento da inteligência

Não concordo com que o perispírito - embora seja matéria quintessenciada - esteja “alheio à elaboração da inteligência e do pensamento”. Na erraticidade, na Terra e em outros mundos o Espírito terá sempre o seu envoltório (perispírito), exceto os Espíritos muito Superiores e os Puros, se não estiverem encarnados; aliás, esta é uma eventualidade rara mas não impossível, embora não estejam mais sujeitos à encarnação, eles podem encarnar-se em “missão”, nada impede!... Frisamos isto, aqui, como um obstáculo aos sofismas dos roustainguistas.
Como disse a Espiritualidade Superior: “(...) o Espírito muda de envoltório, como muda de roupa.” (cf. resposta à questão 94 ‘in fine’ de O Livro dos Espíritos). Só podemos conceber o Espírito sem a matéria “pelo pensamento” (cf. resposta à questão 26, op. cit.).
Embora a Inteligência e o Pensamento sejam atributos inalienáveis do Espírito, haverá sempre co-participação do perispírito em relação ao Pensamento e à Inteligência. Por que o perispírito não está “alheio à inteligência e ao pensamento”? Justamente porque o perispírito é o liame entre o mundo espiritual e o material. Onde houver matéria, aí estará o perispírito, mais grosseiro como o nosso ou menos grosseiro como na erraticidade e nos mundos mais evoluídos.
Sem a participação do perispírito não há progresso material nem espiritual. Como citamos, anteriormente (questão 26 de OLE), a separação entre o perispírito e o espírito é uma abstração do pensamento dos encarnados e inferiores, como nós.

Memória humana (psíquica ou verdadeira) e Memória animal (Memória orgânica ou Memória - hábito) - A questão do tempo - A “durée” bergsoniana

As explicações da função do perispírito como “arquivista temporário” ou como “biblioteca do espírito”, são interessantes didaticamente, todavia, não há rigor nessas explicações... A memória humana não é um mero repositório de engramas (imagens fixadas e conservadas) “arquivados”.
Coube ao filósofo HENRI LOUIS BERGSON (1859-1941) a distinção entre MEMÓRIA ORGÂNICA (ou MEMÓRIA-HÁBITO) e MEMÓRIA PSÍQUICA (ou MEMÓRIA VERDADEIRA). Esta seria apanágio, “específico”, do ser humano.
Com o prof. NOBRE DE MELO podemos definir MEMÓRIA, genericamente, como “a propriedade ou capacidade psíquica de “fixar, conservar” (em latência) e “reproduzir”, “evocar” ou “representar” (voltar a apresentar na consciência), sob a forma de “imagens representativas ou mnêmicas” aquelas impressões sensoriais recebidas, transmitidas e conscientizadas sob a forma de sensações.” (A . L. NOBRE DE MELO. PSIQUIATRIA - Vol. I. Civiliz. Bras. / MEC, Rio de Janeiro, 1979, p. 398). Prosseguindo, diz o nosso mestre da Psiquiatria brasileira, já desencarnado:
“Mas, assim, genericamente concebida, a memória deixa de ser, é óbvio, atributo específico do ser humano”. E exemplifica: “Um cão, digamos, que, alguma vez, tenha sido corrido a pedradas, fugirá espavorido se alguém fizer menção de arremessar-lhe seja o que for, e isso, por efeito, unicamente da dolorosa lembrança anterior fixada”.(op. cit., p. 398 - 399).
Então, com aquela definição genérica, poderíamos dizer que a simples capacidade de armazenar (“arquivar”) e reproduzir impressões deixadas pelos estímulos e excitações do meio externo pode ser encontrada até nos organismos unicelulares, num disco CD, numa fita cassette e nos robôs eletrônicos da moderna Cibernética. Mas seria simplesmente isso a memória humana? Não, a memória orgânica existe no Homem como em qualquer animal, mas a memória humana tem algo de específico...Vejamos a explicação do prof. NOBRE:
“Algo diversos, sem dúvida, são os fatos que definem a chamada “memória psíquica” ou “verdadeira”, esta sim, apanágio do ser humano. Aqui, não somente se verifica a possibilidade de reprodução mecânica ou automática (ecforia) de imagens perceptivas fixadas e conservadas “(engramas)”, mas também a revivescência “(evocação) voluntária” ou “involuntária”, isto é, mercê de associações fortuitas, de estados psicológicos passados, dos pensamentos, sentimentos, emoções, desejos e fantasias, que constituem o patrimônio de nossa experiência vivida. Quer isso dizer que o homem recorda, não apenas os acontecimentos do mundo externo ou circundante, que lhe é dado aos sentidos, mas também os de sua realidade interna, e suas significações respectivas, reconhecendo-os e localizando-os em determinado momento da existência. A memória psíquica ou verdadeira implica, em suma, um FATOR INTENCIONAL SIGNIFICATIVO o destaque é nosso, que, a libera do FATALISMO destaque nosso da memória orgânica.” (op. cit., p. 399).
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MEMÓRIA HUMANA
A memória orgânica existe no Homem como em qualquer animal,
mas a memória humana tem algo de específico
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Enfim, caríssimos leitores, a “memória humana, verdadeira”, não é um simples “arquivo”, estático, de nossas vivências pretéritas. Nem a memória de um computador é assim!... O élan vital caracterizado por BERGSON implica numa continuidade do tempo e numa duração (“durée”). Ou, como dizem os filósofos existencialistas, implica numa “intencionalidade, significativa”... O movimento humano é para o futuro, evolutivo; nunca retroagimos. Nossas vivências passadas são sempre modificadas pelo nosso psiquismo presente e pelas nossas perspectivas futuras... Quando me lembro de uma vivência ocorrida na minha infância, estando com 61 anos, tal vivência não é hoje, rigorosamente, igual àquela que tive na infância. O que mudou? O meu passado? Não, eu mudei e, portanto, mudou a minha vivência.
Além disso, a lembrança ATUAL de um acontecimento será vivenciado diferentemente pelas pessoas, o que levou, inclusive, o escritor italiano LUIGI PIRANDELLO a falar na “Verdade de cada um”... Aliás, a vivência atual pode ser modificada por uma série de “associações fortuitas” como bem assinalava o prof. NOBRE. Através dessas associações há “mudanças qualitativas” na duração (“durée”) e o passado é recuperado , de acordo com o “bergsonismo” (cf. sua obra “Matéria e Memória. Ensaio sobre a Relação entre o Corpo e o Espírito”). Assim, pode ser traçado um paralelo entre o bergsonismo e a música do compositor CLAUDE ACHILLE DEBUSSY e a obra do escritor MARCEL PROUST.
Obviamente, não cabe neste artigo uma análise pormenorizada da questão do TEMPO VIVIDO, do tempo como DURAÇÃO. A propósito disse SANTO AGOSTINHO, encarnado, nas suas Confissões em relação ao que seja o tempo:
“Si nemo me quaerat, scio; se quarenti explicare velim, nescio” (Se ninguém mo pergunta, eu sei; se o quiser explicar a quem me fizer a pergunta, já não sei.).cf. op. cit. Livro XI – item 14.
Ou seja, a questão do tempo implica um caráter eminentemente “intuitivo”. Ora, um filósofo, “encarnado”, afirma não poder explicar o que é o tempo, imagine-se definir o tempo vivido no mundo espiritual!...
A DURAÇÃO (“durée”) do ponto de vista “espiritual” é bem diferente da nossa e isso foi explicitado na resposta à questão 240 de O Livro dos Espíritos e KARDEC comentou a seguir:
“Os Espíritos vivem fora do tempo, tal como o compreendemos; a DURAÇÃO o destaque é nosso, para eles, praticamente não existe, e os séculos, tão longos para nós, são aos seus olhos apenas instantes que desaparecem na eternidade, da mesma maneira que as desigualdades do solo se apagam e desaparecem para aquele que se eleva no espaço”.
O “TEMPO VIVIDO” pode alterar-se em algumas doenças mentais (Esquizofrenias, depressão, etc.) e até em pessoas normais. Por exemplo, o cantor popular brasileiro ROBERTO CARLOS diz nos seus versos na canção “Amor sem limites”: “(...) Aprendi que pouco tempo é muito, se estou longe de seus braços.” . E nos pacientes com a denominada Síndrome de COTARD observa-se um “delírio de negação dos órgãos” (delírio niilista) e um “delírio de eternidade”, em conseqüência, o paciente sofre muito por julgar que nada existe e que aquela situação durará “eternamente”...
É exatamente pelo fato da “DURAÇÃO” ser diferente no mundo “espiritual”, que muitos espíritos desencarnados, ainda apegados à vida carnal, julgam-se no inferno, acreditando assim na “eternidade das penas”. Assim, KARDEC dá inúmeros exemplos dessa situação na 2ª. parte do seu livro “O Céu e o Inferno – A Justiça divina segundo o Espiritismo”. Ilustrando-se isto, sugiro ao leitor que leia o caso BENOIST (op. cit., 2ª parte, cap. VI, “Criminosos arrependidos”, especialmente as questões 3, 9 e 11); e que leia também o caso “Duplo suicídio, por amor e por dever” (op. cit., 2ª parte, Cap. V, “Suicidas”, especialmente a resposta à questão 4, atentando-se para o clamor da que foi a jovem PALMYRE: “sempre assim!”).

EPÍLOGO

Acreditamos que nossas vivências sejam “impressas” em nosso cérebro e aquelas mais importantes espiritualmente (intelectuais e morais) são levadas ao Espírito, através do perispírito. Mas, tais vivências não ficam ali “arquivadas”, o Espírito as modifica de acordo com o seu “livre – arbítrio”.
Admitir-se o perispírito como “arquivista temporário” ou como “biblioteca do espírito” é admitir-se a “memória orgânica”, pura e simplesmente, e, portanto, cair num “fatalismo materialista mecanicista”, ao qual muitos expositores que se dizem “espíritas” e defensores do “Evangelho de JESUS” são conduzidos, alguns até bem-intencionados...
Caro leitor, estou terminando este artigo... Precisarei utilizar o comando “Salvar como” do meu computador para que ele fique arquivado. Toda vez que clicarmos no título “O PERISPÍRITO, A MEMÓRIA E O TEMPO”, aparecerá na tela todo o meu artigo, porque ele ficará na “memória” do meu computador...
Embora as minhas vivências significativas também fiquem “arquivadas” no meu Espírito, o comando “Salvar como” é sempre “Salvar automaticamente” e eu terei acesso a elas clicando não o título, mas sim a “tecla” VONTADE, aqui ou na erraticidade; contudo, nem todo o “texto” estará disponível para ser revivenciado na minha consciência, como numa “ecmnesia” (revivescência do passado individual), pois a “Providência Divina” interdita pensamentos, emoções, sentimentos, etc. que sejam inúteis para o nosso progresso espiritual.
Gostaríamos de dizer que as vivências do Espírito desses pacientes são “qualitativamente” diferentes das dos seus familiares, pois o Espírito deles estão parcialmente EMANCIPADOS do corpo, ao passo que os familiares e nós, encarnados, vivemos as nossas experiências na “prisão” da carne... O “Mal de ALZHEIMER” aniquila a vivência do tempo para o corpo, porque este não “obedece” ao comando do Espírito.

Autor: Iso Jorge Teixeira

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