Posted: 29 Apr 2012 08:25 AM PDT
Viva Além da Crise foi o tema das Jornadas de Cultura Espírita
Promovida pela ADEP – Associação de Divulgadores de Espiritismo de Portugal, a edição deste ano realizou-se nos dias 21 e 22 de abril na bela Vila de Óbidos
Estava a Europa posta em relativo sossego, e eis que a famosa crise econômica invade os lares com assustadoras perspectivas para o futuro. Na televisão pontificam os economistas, falando uma nova língua feita de subprimes, bubbles, spreads e outros palavrões que para o comum cidadão se traduzem em desemprego, falta de dinheiro e dificuldades crescentes. A crise econômica será apenas um acidente de percurso na engenharia financeira, um capricho inexplicável desse deus dos dias atuais que é o “mercado”? Ou será a ponta de um iceberg que faz adivinhar uma crise mais profunda – a dos valores?
Foi à volta destas apreensões e destas interrogações que a ADE Portugal resolveu escolher o tema “Viva Além da Crise” para esta edição das suas Jornadas de Cultura Espírita. No fim-de-semana de 21 e 22 de Abril de 2012, todos os caminhos foram dar ao Auditório da Casa da Música, na histórica e encantadora Vila de Óbidos.
A transmissão via Internet não foi possível, por motivos técnicos
alheios à Organização, mas os vídeos estarão em breve disponíveis no
site da ADE Portugal.
Tratando-se de um evento espírita,
ninguém ia na expectativa de encontrar receitas milagrosas para obter
fortuna material, como acontece em certas correntes new-age e em
setores religiosos que prometem fazer chover dinheiro. Em vez disso, a
audiência foi brindada com reflexões muito sérias, mas agradáveis de
seguir, sobre as crises nos contextos histórico, antropológico,
psicológico, geológico, biológico, econômico, social, familiar e
espiritual.
Temos que viver com os pés na Terra, mas com os
olhos no Céu
olhos no Céu
Se tivéssemos que resumir estas Jornadas numa frase, escolheríamos um trecho do inesquecível O Ponto de Vista, de O Evangelho segundo o Espiritismo: A ideia clara e precisa que se faz da vida futura dá uma fé inabalável no porvir, e essa fé tem consequências enormes sobre a moralização dos homens, porque muda completamente o ponto de vista pelo qual eles encaram a vida terrena. Para aquele que se coloca, pelo pensamento, na vida espiritual, que é infinita, a vida corporal não é mais do que rápida passagem, uma breve permanência num país ingrato.(…) Estas palavras, tão significativas da Doutrina Espírita, não podem ser letra morta, e é nos momentos difíceis que ganham maior significado. Há que viver com os pés na Terra mas com os olhos no Céu. | |||||
Paulo Mourinha (foto), médico e psicólogo de profissão, analisou o stress e a depressão, apontando o caráter cíclico e necessário das crises, conducentes a novos (e melhores) paradigmas. Neste caso, o paradigma que desponta parece apontar para um reequilíbrio entre “ter” e “ser”, após um período de materialismo exacerbado. | |||||
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Os problemas são muitos, mas os desafios são também entusiasmantes
O jornalista e naturalista Jorge Gomes estabeleceu um interessante paralelo entre as crises humanas, e a Geologia e a Biologia. Da Natureza colhemos a lição de que a vida pressupõe níveis de instabilidade. E o Espiritismo lembra-nos que já enfrentamos muitas crises, em anteriores existências carnais. O exemplo do lobo de menor estatuto da matilha, que chega a ser expulso e sozinho faz das fraquezas forças, foi sugestivo.
Andreia Nunes (foto), jovem psicóloga clínica com respeitável currículo acadêmico e profissional, embora não sendo espírita, acedeu amavelmente a palestrar neste evento, e encantou a audiência com uma dissertação sobre as dificuldades conjugais que se agravam nestes tempos difíceis. Os problemas são muitos, mas são entusiasmantes os desafios que se apresentam aos pares que o amor uniu. Foi especialmente tocante sua sugestão de que ambos a | |
cada dia procurem completar a frase “Hoje fui feliz porque…”. Mesmo que só
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tenham jantado um prato de sopa – acrescentou.
A Amélia Reis, professora aposentada, coube abordar um dos problemas dos nossos dias: o impacto da separação dos pais na vida dos filhos. Uma abordagem lúcida, responsabilizadora e enaltecedora das responsabilidades de mães e pais. |
Em Espiritualidade, quanto mais capital se divide, mais capital se multiplica
Uma apresentação invulgar, com uma dinâmica de sketch, foi trazida por José Lucas (militar) e Noémia Margarido
(técnica de contas), que se atreveram a tratar os temas do suicídio,
homicídio, pena de morte e aborto, com o otimismo inquebrantável que a
Doutrina Espírita possui.
Na última mesa-redonda do dia a psiquiatra
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Gláucia Lima, presença habitual
nas Jornadas, juntou-se ao painel e respondeu a questões do auditório,
relacionando Psiquiatria e Espiritismo.
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O segundo dia iniciou-se com a eterna jovialidade de Lígia Pinto, médica especialista em Geriatria e investigadora, que abordou outro tema quente,
a eutanásia. Aliando conhecimento científico e solidez doutrinária,
destacou o papel do livre-arbítrio, da emancipação moral que o
Espiritismo aponta a uma Humanidade que se liberta dos
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ditames religiosos dogmáticos e vai entrando na maioridade espiritual. |
Especialista em Informática, professor e webmaster da ADE Portugal, Vasco Marques destacou o papel das redes sociais na atividade humana em geral e na divulgação do Espiritismo.
Isaías Sousa (foto), economista, surpreendeu o auditório com um tema invulgar – “A Economia do Espírito” – demonstrando que em Espiritualidade, quanto mais capital se divide, mais capital se multiplica. O “mercado da virtude” ou as dívidas que Deus transforma em oportunidades foram algumas das imagens usadas, numa comunicação | |
cativante, que conseguiu o feito inédito de comover corações com Economia, gráficos e números.
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Em nosso orbe, cada um de nós tem a sua parcela
de virtudes e fraquezas
A última comunicação coube ao professor Reinaldo Barros,
que sintetizou tudo o que fora dito, na sua palestra “Reaprender a
Viver”. Com efeito, em tempos em que a Economia está na ordem do dia, a
ideia que fica é de que a Humanidade terrena está sentada sobre uma mina de ouro
que ainda não descobriu. Urge não cometer os mesmos erros que os
habitantes da Ilha de Páscoa outrora cometeram, esgotando-se em lutas
estéreis e consumindo totalmente os seus recursos materiais. A
Espiritualidade – neste caso interpretada pelo modelo espírita – é o
precioso recurso que ainda não exploramos eficientemente. É
inesgotável, e se usado caritativamente, poderá enformar a nova
Sociologia, a nova Economia, a nova era de paz e harmonia que a
Humanidade busca.
Citando Paulo Mourinha, "O Espiritismo é o movimento social mais revolucionário que a Humanidade já conheceu".
Na intervenção de encerramento, João Xavier de Almeida (foto), aposentado, ex-presidente da Federação Espírita Portuguesa, membro honorário e presidente da Assembleia Geral da ADEP, lembrou, com desarmante singeleza, que Deus está com todos nós. “Está aqui neste momento e basta que pensemos nele uns segundos para sentirmos a Sua | |
paz.” Rejeitando a busca obstinada de
culpados exclusivos das crises, lembrou que cada um de nós tem a sua
parcela de virtudes e fraquezas. A progressiva sintonia com Deus trará a
progressiva perfeição das instituições e sociedades humanas. O decano
dos espíritas portugueses não precisou falar bastante para dizer
muito.
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Uma palavra para os belos momentos musicais oferecidos pelo jovem pianista Rafael Araújo(foto), pelo grupo juvenil do Centro de Cultura Espírita, e pelos adultos Reinaldo Barros, Inês Guinote, João Paulo & Filomena, que viriam a interpretar em conjunto uma memorável versão de “Essa Luz ao Fim da Tarde”, já quase no final do evento. |
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