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sábado, 12 de março de 2011
Nosso Lar, o suicídio inconsciente e a armadilha do ódio
Por Cristine Martin
Recentemente assisti ao filme Nosso Lar e decidi reler o livro, que havia lido há algumas décadas e do qual não lembrava os detalhes. O filme é muito bem produzido e além do mérito artístico, tem a virtude de chamar ao debate a questão das consequências de nossos atos e pensamentos hoje para nossa vida futura.
Um ponto que me intrigou foi quando André Luiz está vagando pelo Umbral (o chamado “purgatório”) e é acusado de suicídio. Quando chega a Nosso Lar, os espíritos auxiliadores confirmam suas dúvidas, pois ele não se conformava em ser chamado de suicida, pois sofrera uma séria doença intestinal, que havia sido a causa de sua morte.
Ele realmente era um suicida, mas do tipo inconsciente. O modo como vivemos, nossas atitudes, nosso estado mental, todos contribuem para nossa saúde ou doença no nível espiritual e têm consequências também na saúde física.
“Vejamos a zona intestinal – exclamou. – A oclusão derivava de elementos cancerosos, e estes, por sua vez, de algumas leviandades do meu estimado irmão, no campo da sífilis. A moléstia talvez não assumisse características tão graves, se o seu procedimento mental no planeta estivesse enquadrado nos princípios da fraternidade e da temperança. Entretanto, seu modo especial de conviver, muita vez exasperado e sombrio, captava destruidoras vibrações naqueles que o ouviam. Nunca imaginou que a cólera fosse manancial de forças negativas para nós mesmos? A ausência de autodomínio, a inadvertência no trato com os semelhantes, aos quais muitas vezes ofendeu sem refletir, conduziam-no frequentemente à esfera dos seres doentes e inferiores. Tal circunstância agravou, de muito, o seu estado físico. Depois de longa pausa, em que me examinava atentamente, continuou:
- Já observou, meu amigo, que seu fígado foi maltratado pela sua própria ação; que os rins foram esquecidos, com terrível menosprezo às dádivas sagradas?
Singular desapontamento invadira-me o coração. Parecendo desconhecer a angústia que me oprimia, continuava o médico, esclarecendo:
- Os órgãos do corpo somático possuem incalculáveis reservas, segundo os desígnios do Senhor. O meu amigo, no entanto, iludiu excelentes oportunidades, esperdiçado patrimônios preciosos da experiência física. A longa tarefa, que lhe foi confiada pelos Maiores da Espiritualidade Superior, foi reduzida a meras tentativas de trabalho que não se consumou. Todo o aparelho gástrico foi destruído à custa de excessos de alimentação e bebidas alcoólicas, aparentemente sem importância. Devorou-lhe a sífilis energias essenciais. Como vê, o suicídio é incontestável.”
(Nosso Lar, Cap. 4)
Além dos excessos alimentares e do álcool, cujas consequências para a saúde todos conhecemos, outro tipo de excesso tem passado despercebido no mundo violento em que vivemos. Ao saber de notícias de assassinatos, violência, crueldades cometidas contra pessoas e animais, nossa reação natural é de revolta. Queremos que se faça justiça, reclamamos das penas brandas recebidas pelos criminosos, isso quando são julgados e condenados. E os mais revoltosos chegam a defender a pena de talião e a justiça feita pelas próprias mãos.
Não que os criminosos não devam pagar pelo mal que cometeram; isso seria apenas justo. Mas para que a pena surtisse efeito, teria de encontrar uma alma consciente do mal que fez e disposta a se corrigir. Infelizmente, isso não é o que nosso sistema penal e carcerário promove.
Para quem acredita que esta vida é apenas uma etapa no caminho de nossa existência, o pensamento de que sempre pagamos e pagaremos por nossos erros, de uma forma ou de outra, é consolador e acalma o senso de justiça. Mas alguns crimes são tão bárbaros que a aparente impunidade nos enche de revolta. Como alguém pode agredir, torturar, assassinar uma criança, um cãozinho, e sair impune?
Muitas pessoas bem intencionadas e preocupadas em ajudar e a evitar a violência caem na armadilha e, revoltados (o que é compreensível, pois temos visto crueldades inimagináveis) fazem comentários do tipo “esse aí merecia sofrer a mesma coisa”, ou “devia pegar esse cara e fazer X, Y e Z com ele para ver se aprende”, e coisas desse tipo.
Pois é aí que mora o perigo. Ao abrigar pensamentos de ódio e promover ideias de justiça com as próprias mãos (ainda que não cheguem às vias de fato), estamos nos envolvendo com vibrações extremamente negativas, que atraem exatamente os espíritos não evoluídos que queremos evitar e afastar. Essas energias crescem como uma bola de neve, e como dizem, violência gera violência. E no fim das contas, nós também seremos prejudicados.
“A violência aparece em formas várias; a mais comum é a da violência material, que pratica atos violentos física, como ferimento ou morte. Violência em forma mais civilizada se revela verbalmente, em forma de injúrias, maledicências, mentiras, difamações. A mais sutil, e por isto mesmo a mais perversa das violências, aparece na forma mental de ódio ou malquerença. As vibrações negativas do ódio envenenam em primeiro lugar seu próprio autor e produtor, e podem também causar graves danos ao objeto do mesmo, no caso que este seja alérgico às invisíveis ondas do ódio. Em casos extremos, o ódio produz a morte da sua vítima.
Pretender abolir a violência sem primeiro abolir o egoísmo é o mesmo que querer evitar o efeito sem extinguir a causa do mesmo.” (texto – Mahatma Gandhi, de Humberto Rohden)
Tanto o egoísmo quanto os excessos de toda forma, a indiferença com os que sofrem, as oportunidades perdidas, os atos e pensamentos violentos, todos esses contribuem para aumentar nossas dívidas. Além de não ajudar as vítimas da violência, esses sentimentos de ódio só contribuem para piorar a situação geral. Mas como podemos fazer a diferença de forma positiva?
A resposta está nas ações positivas e na caridade. Caridade não apenas no sentido de dar esmolas, contribuir com entidades, pagar o dízimo, embora tudo isso tenha seu valor. A verdadeira caridade vai além e inclui o sacrifício de maus sentimentos, o perdão, a compreensão dos males alheios, evitar constrangimentos, a discrição no ajudar, evitar comentários inúteis, antecipar-se a um pedido de auxílio, e a ajudar com pensamentos e vibrações positivas.
“Antigamente, ofereciam-se sacrifícios sangrentos para apaziguar os deuses infernais, que nada mais eram do que os Espíritos maus. Aos deuses infernais sucederam os demônios, que são a mesma coisa. O Espiritismo vem provar que esses demônios não são mais do que as almas de homens perversos, que ainda não se despojaram dos seus instintos materiais; que não se pode apaziguá-los senão pelo sacrifício dos maus sentimentos, ou seja, pela caridade; e que a caridade não tem apenas o efeito de impedi-los de fazer o mal, mas também de induzi-los ao caminho do bem e contribuir para a sua salvação. É assim que a máxima: Amai aos vossos inimigos, não fica circunscrita ao círculo estreito da Terra e da vida presente, mas integra-se na grande lei da solidariedade e da fraternidade universais.”
(Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XII)
Não só o Espiritismo, como todas as religiões e crenças, admitem o poder do pensamento e a energia que dele emana. Toda forma de oração é um pensamento positivo em prol de alguém; da mesma forma, uma maldição seria uma energia negativa direcionada a alguém, e que carrega consigo outros espíritos sintonizados na mesma energia, que comprazem-se no mal. Tudo o que pensamos é vibração, energia que atrai outras energias na mesma sintonia. Ajudaremos mais e melhor se, além das ações práticas, vibrarmos de forma positiva.
“Se sua vibração abrir seu campo vibracional para atrair algo negativo, esta negatividade irá se materializar em sua vida, tenha certeza disso! Citando Deepak Chopra: Lei é o processo pelo qual o não manifesto torna-se manifesto… Toda a criação, tudo o que existe no mundo físico é resultado do não manifesto transformando-se em manifesto. ” (Graziela Marraccini)
Portanto, para evitar que sejamos acusados de suicídio inconsciente no futuro e para não aumentar o fardo que temos de carregar, aqui e lá na frente, não adianta nos revoltarmos com as notícias de violência. É melhor agir no que for possível, auxiliar a vítima ou quem a auxilia, providenciar recursos materiais necessários, usar os canais de divulgação para fins positivos (por exemplo, divulgando como podemos ajudar em vez de ficar repisando a tragédia), evitar pensamentos de violência, moderar palavras e pensamentos, além de, é claro, cuidar melhor de nossa saúde física, mental, emocional e espiritual. Pois, afinal de contas, tudo isso faz diferença.
“Para isso, você tem que elevar sua vibração. Como se consegue isso? Mais uma vez vamos consultar os ensinamentos budistas: É preciso trilhar o caminho do meio. Evitar os extremos da vida, o prazer desmedido ou o sofrimento inútil. Compaixão irrestrita é a meta de todo budista. Não somente pelos seres humanos, mas por todos os seres vivos. A sabedoria é a outra grande meta. O dr. Georges da Silva diz: “sem sabedoria somos tolos de bom coração, sem compaixão somos intelectuais frios e insensíveis“. Para alcançar a iluminação é preciso unir as duas coisas. Esse é o objetivo da conduta ética.” (Sintonia e Vibração)
http://www.almacarioca.net/nosso-lar-o-suicdio-inconsciente-e-a-armadilha-do-dio-cristine-martin/
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3º. SEMINÁRIO DE PREVENÇÃO DO SUICÍDIO DA UERJ
http://visaoespiritabr.com.br/noticias/3%c2%ba-seminario-de-prevencao-do-suicidio-da-uerj
Aspectos sociais e culturais na compreensão e prevenção do suicídio
Peça Teatral de Francis Ivanovich e participação de Leonardo Boff no Seminário da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Desde 2008 a Vice-Reitoria da UERJ, com a colaboração de diversos parceiros, vem se preocupando em lançar luz sobre uma situação que durante décadas foi tratada como um tabu e que, de alguma forma, conduzia o coletivo universitário a evitar uma reflexão mais apurada sobre esta realidade – a ocorrência do ato suicida por defenestração nas dependências do seu campus Maracanã.
Um suicídio provoca, quase que na totalidade dos indivíduos, sentimentos e manifestações de indagação, indignação, impotência, paralisia e nos remete a medos arcaicos e primitivos. Este ano há a participação do TEATRO, além da presença de Leonardo Boff.
Teatro:
A UERJ convidou a peça A História do Homem que Ouve Mozart e da Moça do Lado que Escuta o Homem, do escritor e dramaturgo Francis Ivanovich para ser objeto de análise e debate entre especialistas e o público. Serão três apresentações: dias 24, 25 e 26 de outubro de 2011, no teatro Noel Rosa, às 18h30.
O Suicídio é considerado, nos dias atuais, pela Organização Mundial de Saúde - OMS como uma questão de saúde pública, o enfrentamento deste fenômeno exige a mobilização de toda a sociedade.
LEIA MAIS http://visaoespiritabr.com.br/noticias/3%c2%ba-seminario-de-prevencao-do-suicidio-da-uerj
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