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terça-feira, 10 de maio de 2011
Se o aborto for legalizado, BRASIL viverá ciclo de guerras
ENTREVISTA
Publicado em 29 de março de 2009
Marlene: as doenças, em sua esmagadora maioria, estão relacionadas às imperfeições da alma e à lei do carma
Marlene Nobre fala da convivência com Chico, os rumos do espiritismo, aborto e outros assuntos, em entrevista exclusiva
Marlene Nobre é médica ginecologista aposentada, especialista em prevenção do câncer uterino. Viúva do político, advogado e professor universitário Freitas Nobre (cearense), ela trabalhou com Chico Xavier nas seções públicas da Comunhão Espírita Cristã, em Uberaba, Minas Gerais, entre os anos de 1959 e 1962. Preside também a Associação Médico-Espírita do Brasil e a Associação Médico-Espírita Internacional, é editora responsável pelo jornal Folha Espírita e diretora da Creche Lar do Alvorecer. Além disso, escreveu diversos livros, dentre eles “Lições de Sabedoria - entrevistas do médium Chico Xavier”. Marlene Nobre estará em Fortaleza na próxima quinta-feira proferindo uma palestra no auditório da FIC (Água Fria), às 19h, por ocasião da IV Semana Chico Xavier.
Qual a abordagem central de sua palestra “Além desta vida”, que será ministrada na Semana Chico Xavier?
Vou me referir, inicialmente, aos casos de pessoas que passaram pela Experiência de Quase Morte (EQM), ou seja, que estiveram clinicamente mortas e voltaram à vida com o auxílio de aparelhos especiais, relatando tudo o que viram e sentiram durante esse período em que estiveram no limiar da morte. São milhares de pessoas que descreveram aos pesquisadores, em geral médicos e psicólogos, a existência de um corpo mais leve, com o qual se apresentavam em uma outra dimensão, para onde foram, atravessando túneis, e onde puderam encontrar familiares, amigos e mestres de luz, guardando lembrança nítida de tudo quanto viram. Depois de falar sobre essas pesquisas e o que as pessoas viram no limiar da morte, faço a ligação com uma outra pesquisa, feita pela Associação Médico-Espírita de S. Paulo com as mensagens recebidas por Chico Xavier e que foi publicada no livro - A Vida Triunfa - de autoria do meu irmão Paulo Rossi Severino. Ampliei o estudo dessas 45 iniciais para mais de 500 mensagens recebidas por Chico Xavier aos familiares, nas quais os comunicantes não só falam a mesma coisa que os ressuscitados da morte na EQM, como ampliam muito mais a visão da vida no além. De acordo com as descrições deles, falo sobre a travessia deste mundo para outro, as doenças e tratamentos médicos no além, as escolas e atividades, bem como sobre as repercussões espirituais entre encarnados e desencarnados. É de uma riqueza incalculável o legado que Chico Xavier nos deixou. E ao final, uma só certeza: ninguém morre.
Quando começou seu envolvimento com a doutrina espírita?
Sou espírita desde o berço. Aos 11 anos, fiz um pequeno discurso representando a mocidade espírita de S. José do Rio Preto. Mais tarde, quando cursei medicina em Uberaba, envolvi-me mais diretamente com os trabalhos do movimento espírita.
Como ocorreu a aproximação com Chico Xavier?
Em outubro de 1958, às vésperas de mudar-se para Uberaba, o que ocorreu em janeiro de 1959, Chico Xavier esteve em Uberaba e pediu ao Waldo Vieira, meu colega de faculdade, que me levasse até ele, porque precisava conversar comigo. Durante a entrevista, como não o conhecia, apenas havia lido suas obras, fiquei muito admirada com o convite que me fez: o de trabalhar com ele nas sessões públicas da Comunhão Espírita Cristã, a partir de janeiro, quando ele já estaria instalado definitivamente em Uberaba. E foi o que aconteceu. Durante cerca de quatro anos, de janeiro de 1959 a dezembro de 1962, trabalhei com ele, dando minha pequena parcela de contribuição na interpretação dos textos de O Livro dos Espíritos e de O Evangelho Segundo o Espiritismo, obras que eram estudadas nos dias de sessão pública. Mesmo mudando-me para S.Paulo, em 1963, nossa amizade permaneceu sempre a mesma, até a sua desencarnação, em 2002. E perdurará, tenho certeza, pela eternidade, porque somos imortais.
Que trabalhos vocês desenvolveram juntos?
Fazia os comentários sobre as lições da noite, enquanto Chico e Waldo psicografavam receitas e mensagens dos Mentores Espirituais; por minha vez, também recebia mensagens psicográficas nessas reuniões, a convite do Chico. Tínhamos juntos ainda a distribuição de gêneros alimentícios aos mais carentes da periferia de Uberaba aos sábados. Participei também do programa radiofônico - Ondas de Luz, que fazia parte das atividades da Comunhão àquela época.
Há algum fato que tenha lhe marcado durante o tempo de convivência com ele?
Fui profundamente marcada por sua bondade, por sua humildade genuína. Por isso mesmo, reconheço a enorme distância que nos separa do ponto de vista espiritual e a grande responsabilidade que assumi por ter trabalhado com ele e tomado conhecimento de sua obra.
Você chegou a receber mensagens psicografadas dele?
Psicografadas não, mas me deu vários recados de grande precisão através da vidência.
De que forma a doutrina espírita pode ajudar no exercício da medicina?
A contribuição do Espiritismo à medicina é enorme. Primeiramente, ele muda a visão do mundo e do ser humano. Quando o médico espírita examina o paciente, sabe que tem diante de si uma alma imortal que está transitando, por alguns anos na Terra, envergando um corpo físico e envoltórios espirituais, que vem sendo construídos ao longo de bilhões de anos e que adoecem segundo a lei de ação e reação. O médico sabe, portanto, que as doenças, em sua esmagadora maioria, estão relacionadas às imperfeições da alma e à lei do carma. E, principalmente, está consciente de que tem nos seus pacientes irmãos em humanidade aos quais compete servir, segundo os sentimentos de fraternidade exemplificados pelo Médico dos Médicos - nosso Mestre Jesus.
O que diferencia o “médico espírita” de um que não segue a doutrina?
O Espiritismo dá uma visão integral do ser humano: Alma-mente-corpo e estimula o exercício da solidariedade entre todas as criaturas humanas. O que deveria diferenciar o médico espírita em relação aos seus colegas seria o exercício da humildade e da caridade, o compromisso de estudar e aprimorar-se sempre, sem colocar-se como superior a quem quer que seja. Sabemos, no entanto, que existem médicos sem religião, que são seres humanos maravilhosos e que nos dão grande exemplo de solidariedade humana.
Você é presidente da Associação Médico-Espírita do Brasil (AME) e da Associação Médico-Espírita Internacional. Quais os objetivos dessas duas entidades?
A Associação Médico-Espírita do Brasil foi fundada em 1995 e hoje congrega 33 Associações e tem mais 10 núcleos em vias de formação. Resumidamente, podemos dizer que ela tem por finalidade levar a alma à Medicina em seu duplo sentido: levar as pesquisas científicas, as investigações, e os estudos que demonstrem a presença da alma no comando do corpo físico e a alma no sentido de calor humano, bondade, solidariedade. A AME é uma das instituições que visa fortalecer o aspecto científico da Doutrina Espírita. Mas, sobretudo, tem uma preocupação ética. Com o avanço tecnológico das ciências da vida, tem de estar atenta aos aspectos bioéticos que envolvem a aplicação prática desses novos conhecimentos. A Associação Médico-Espírita Internacional foi fundada em 1999 e tem os mesmos objetivos.
No trabalho como escritora, você escreveu “Lições de Sabedoria - entrevistas do médium Chico Xavier”. Quais as temáticas presentes nas entrevistas?
O livro “Lições de Sabedoria” conta as entrevistas dadas por Chico Xavier ao jornal Folha Espírita, durante 23 anos. Dividi-as por assuntos de modo que é um livro de consulta no qual se tem a opinião do querido médium sobre os mais diferentes temas: amor ao próximo, imortalidade da alma, reencarnação, drogas, fumo e malefícios para corpo e alma, aborto, vida familiar, missão do Brasil, etc.
Uma outra temática abordada por você nos livros foi o aborto. A legislação brasileira permite essa prática em alguns casos, como o da menina de 9 anos estuprada pelo padrasto em Pernambuco. Você concorda com a legislação referente ao assunto?
A miséria moral está profundamente vinculada à miséria espiritual e ambas devem ser combatidas com a instrução e a educação mais abrangente, dirigida ao ser humano integral, corpo-espírito. Nós sabemos que nos povos mais desenvolvidos o estupro também está presente, mas é muito maior em países como o nosso, onde a educação é relegada a um plano secundário. Por falta de educação geral e irrestrita do nosso povo, a miséria moral está profundamente agravada, como temos visto nos casos de estupro e pedofilia. Para os Espíritos Superiores, o aborto só é cabível em uma situação: quando a vida da gestante está em perigo de morte iminente. Isto porque a intenção não é matar o feto, mas salvar a vida da mãe. Por exemplo, a gestante sofreu um acidente ou foi atingida por um projétil e tem hemorragia grave, o que se tem de fazer é salvá-la, estancando a perda de sangue. Se o feto vier a falecer, a intenção não foi essa. Creio que só poderíamos opinar no caso da menina em foco se conhecêssemos em detalhes a situação clínica da gravidez. A internação e o acompanhamento da gestação por mais tempo nos permitiria opinar com segurança.
Qual a sua opinião acerca do aborto em crianças anencéfalas?
Sou absolutamente contra. O anencéfalo, ao contrário do que o nome diz, possui uma estrutura cerebral em funcionamento - o tronco encefálico - a parte mais primitiva do encéfalo. Por isso mesmo, ele respira, tem batimentos cardíacos, tem metabolismo basal. O anencéfalo é um organismo humano vivo. Se não o fosse não conseguiria formar órgãos e não teria todas as funções mencionadas. Ele deve viver o tempo que lhe foi programado. A Associação Médico-Espírita do Brasil está lançando um livro: A Vida dos Anencéfalos, aspectos científicos, jurídicos e espirituais, onde deixaremos muito clara esta questão.
Há uma suposta omissão dos espíritas sobre a questão do aborto?
Creio que a Federação Espírita Brasileira (FEB), a Associação Brasileira dos Magistrados Espíritas (ABRAME), a Associação Jurídico-Espírita de S.Paulo e do Rio Grande do Sul (AJE), e, naturalmente, a AME-Brasil, da qual sou presidente, têm se manifestado de forma contundente contra a legalização do aborto no país. Inclusive, eu não poderia deixar de lembrar um acontecimento histórico, os presidentes da FEB, Nestor Masotti, da ABRAME, Zalmino Zimmerman, e da AME-Brasil, visitaram parlamentares e autoridades em Brasília, entre estas o presidente do Supremo Tribunal de Justiça e o Procurador Geral da República, em junho de 2005, distribuindo manifestos contra o aborto, preparados por juristas e médicos, desencadeando com isso um movimento que resultaria na criação da Frente Parlamentar em Defesa da Vida contra o aborto, em agosto de 2005, na Câmara Federal. Na mesma ocasião da visita ao Parlamento e às autoridades, foram enviados mais de 20 mil desses manifestos, redigidos pela ABRAME e pela AME, a todos os juízes do Brasil, em trabalho exaustivo de correio, realizado e subsidiado pela FEB. Embora essas entidades estejam vigilantes e sejam partícipes, sentimos falta, é verdade, de um maior empenho das entidades espíritas, como um todo, em mostrar essa posição contrária, em tomar parte mais ativamente nos movimentos ecumênicos e suprapartidários que se desdobram em todo o país.
Quais as conseqüências espirituais do aborto para a mulher que o realiza? E para a sociedade, quais os efeitos?
As conseqüências psicofísicas e espirituais podem ocorrer na mesma existência em que o aborto foi praticado, tais como o transtorno mental depressivo, a obsessão e os distúrbios diversos do sistema reprodutor feminino. Há também as mesmas conseqüências em existência posterior, sendo as mais freqüentes, os diversos graus de infertilidade, os distúrbios do sistema reprodutor e muitos problemas gestacionais. A sociedade sofre os efeitos da pena de morte que pratica contra inocentes, que não tem como se defender, gerando mais violência sobre si mesma. Muitos desastres morais graves tem aí sua origem.
Certa vez, Chico Xavier teria dito que se o aborto fosse aprovado legalmente no Brasil, o país entraria em um ciclo de guerras. Qual sua opinião sobre isso?
Ele disse isso a mim, diretamente, e estou certa de que isto poderá mesmo ocorrer. Como já me referi o país que pratica esse tipo de violência não consegue sair da cadeia de ódio que gerou para si mesmo. Vivemos em uma grande rede - a teia da vida - o que se faz em um dado ponto desta imensa malha, faz-se a todo o conjunto, com natural repercussão sobre os responsáveis pela ação. Nossa bandeira é imaculada, não tem nenhuma nódoa de violência na sua tessitura, vamos rogar a Deus que continue assim.
Após a morte de Chico Xavier em 2002, muito se fala a respeito dos rumos do Espiritismo no Brasil. Para você, qual a situação atual da doutrina?
Chico Xavier nunca se julgou importante dentro do movimento espírita. Nós sabemos o quanto ele o foi, inclusive dividindo a história do Espiritismo em antes e depois dele, sobretudo, quando deu as duas entrevistas memoráveis no “Pinga-fogo”. Mas, na verdade, ele sempre se julgou grama e como dizia: “grama nasce em qualquer parte; morre uma, nasce outra”. Creio que o Espiritismo será o que nós, os humanos, fizermos dele. É muito difícil julgar qualquer situação na qual estamos inseridos. Acredito que muita coisa tem sido feita por elementos de boa vontade em toda parte. Somente, porém, o distanciamento no tempo dirá se nós os espíritas atuais estamos fazendo tudo o que está ao nosso alcance para a vivência e a divulgação dos princípios.
Em meio aos preparativos para o centenário de Chico Xavier, quais as principais lições do mestre que devem ser lembradas?
Sem dúvida, a bondade e a humildade em uma palavra: a caridade.Creio que Chico gostaria de ser lembrado em um grande movimento nacional de auxílio aos mais carentes, tanto da alma quanto do corpo. O movimento em sua homenagem que o deixaria imensamente alegre e feliz seria aquele no qual se levasse consolação aos enfermos, aos carentes de toda sorte, aos presidiários, aos deficientes, enfim, aos irmãos do caminho que Jesus nos ensinou a buscar para derramar sobre eles a bênção da solidariedade.
fonte: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=626260
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