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quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

TEMA-->O ESPAÇO E O TEMPO


Livro selecionado: "A Gênese" Allan Kardec.

Diversas definições do espaço foram dadas; a principal é esta: o espaço é a extensão que separa dois corpos. De tal enunciado, certos sofistas deduziram que onde não houvesse corpo, não haveria espaço; é com tal alicerce que doutores em Teologia se basearam para estabelecer que o espaço seria necessariamente finito, alegando que corpos limitados, em certo número, não poderiam formar uma série infinita; e que no local em que os corpos parassem, o espaço também se deteria. Outra definição do espaço: o lugar no qual se movem os mundos, o vazio no qual atua a matéria etc. Deixemos nos tratados todas essas definições, pois nada definem.
O espaço é uma dessas palavras que representam uma idéia primitiva e axiomática, evidente por si mesma, e que as diversas definições que lhes podem dar, não servem senão para obscurecer. Sabemos todos o que é o espaço e nada mais pretendo senão estabelecer que ele é infinito, a fim de que nossos estudos ulteriores não tenham nenhuma barreira, que se levante perante as investigações de nossa visão.
Ora, digo que o espaço é infinito, por esta razão: porque é impossível supor que tenha algum limite, e que, apesar da dificuldade que temos de conhecer o infinito, nos é entretanto mais fácil percorrer o espaço, eternamente, no pensamento, do que nos determos num lugar qualquer, depois do qual não encontraríamos mais extensão a percorrer.
Para representarmos a nós mesmos o infinito do espaço, embora tenhamos que fazê-lo com nossas faculdades limitadas, suponhamos que, partindo da terra, perdida no meio do infinito em direção a um ponto qualquer do Universo, e isso com a velocidade prodigiosa da faísca elétrica (que percorre milhares de léguas por segundo), mal tenhamos saído desse globo, já havendo percorrido milhões de léguas, nos encontremos num local de onde a terra aparece apenas como uma pálida estrela. Um instante depois, seguindo sempre a mesma direção, chegamos às estrelas longínquas, que mal nos é possível distinguir, em vossa estação terrestre; e daí não só a terra está inteiramente perdida em relação às nossas considerações, nas profundezas dos céus, mas ainda vosso sol, mesmo em seu esplendor, é eclipsado pela extensão que nos separa dele. Animados sempre com a mesma velocidade do relâmpago, franqueamos estes sistemas de mundos, a cada passo que avançamos pela extensão, ilhas de luz etérea, caminhos estelíferos, paragens suntuosas onde Deus semeou mundos com a mesma profusão com que semeou plantas nas planícies terrestres.
Ora, apenas alguns minutos estamos a caminho, e já nos separamos da terra, centenas de milhões e milhões de léguas; milhares de mundos passaram sob nossos olhos, e no entanto, escutai: na realidade, não avançamos um só passo pelo universo afora.
Se continuarmos durante anos, séculos, milhares de séculos, durante milhões de períodos cem vezes seculares, e incessantemente com a mesma velocidade do relâmpago, nem assim teremos avançado! E isso será o mesmo, de todos os lados para os quais nos dirijamos, e em direção a qualquer ponto que busquemos, a partir deste grão invisível que deixamos, e que se chama _ Terra!
Eis o que é o espaço!
2. O tempo, tal como o espaço, é uma palavra definida por si mesma; faremos uma idéia mais justa dele estabelecendo sua relação com o todo infinito.
O tempo é a sucessão das coisas; é ligado à eternidade da mesma maneira que essas coisas são ligadas ao infinito.
Suponhamos estarmos na origem de nosso mundo, naquela época primitiva em que a terra ainda não se balançava
sob o divino impulso; numa palavra, no começo da Gênese. Então, o tempo ainda não saíra do misterioso berço da natureza; e ninguém pode dizer em que época de séculos estamos, pois o pêndulo dos séculos ainda não está em movimento.
Porém, silêncio! A primeira hora de uma terra isolada soa no relógio da Eternidade, o planeta se move no espaço, e desde então existe tarde e manhã. Além da terra, a eternidade jaz impassível e imóvel, embora o tempo caminhe em outros mundos. Sobre a terra, o tempo a substitui, e durante uma série determinada de gerações serão contados os anos e os séculos.
Entretanto, transportemo-nos ao derradeiro dia do mundo, à hora em que, curvada sob o peso da sua velhice, a terra se apagará do livro da vida para ali não mais reaparecer: aqui se detém a sucessão dos acontecimentos; os movimentos terrestres que mediam o tempo se interrompem, e com eles termina o tempo.
Esta simples exposição das coisas naturais que dão nascimento ao tempo, o nutrem e o deixam estender-se, basta para mostrar que, considerado do ângulo em que devemos nos colocar para nossos estudos, o tempo é uma gota d'água que cai da nuvem no mar, cuja queda é medida.
Tantos mundos haja na vasta expansão, tantos tempos diversos haverão, e incompatíveis. Fora dos mundos, unicamente a eternidade substitui essas sucessões efêmeras, e tranqüilamente preenche com sua luz imóvel a imensidão dos céus. Imensidade sem limites e eternidade sem restrições, tais são as duas grandes propriedades da natureza universal.
A vista do observador que atravessa, sem jamais encontrar obstáculo, as distâncias incomensuráveis do espaço, e a do geólogo que remonta além dos limites das idades, ou que desce às profundezas da eternidade, onde um dia se perderão, atuam em conjunto, cada um por seu lado, a fim de adquirir esta dupla noção do infinito: extensão e duração.
Ora, conservando esta ordem de idéias, ser-nos-á fácil conceber que não sendo o tempo senão a relação das coisas transitórias, e portanto, unicamente de coisas que se medem, assim, se tomarmos os séculos terrestres por unidade e os amontoarmos aos milhares e milhares, para com eles formar um número colossal, esse número não representará jamais senão um ponto na eternidade; de modo semelhante, as milhares de léguas reunidos aos milhares de léguas, não são senão um ponto na extensão.
Assim, por exemplo, os séculos sendo algo que se encontram fora da vida etérea da alma, poderíamos escrever um número tão extenso como o equador terrestre, e supor de nós mesmos que seríamos tão velhos quanto tal número de séculos, sem que na realidade nossa alma contasse um dia a mais; e acrescentando a este número indefinível dos séculos, uma série longa como daqui ao sol, de números semelhantes, ou ainda mais considerável, e imaginando que vivêssemos durante a prodigiosa sucessão de períodos seculares, representados pela soma de tais números, quando chegássemos ao termo final, a acumulação incomparável de séculos que pesaria sobre nossas cabeças seria como se não houvesse: permaneceria sempre diante de nós, toda a eternidade.
O tempo não é senão uma medida relativa de sucessão das coisas transitórias; a eternidade não é suscetível de nenhuma medida, do ponto de vista de sua duração; para ela, não há começo nem fim: para ela, tudo é o presente.
Se séculos e séculos são menos que um segundo em relação à eternidade, o que será então a duração da vida humana?
(1) Este capítulo foi extraído integralmente de uma série de comunicações ditadas na Sociedade Espírita de Paris, em 1862 e 1863, sob o título: "Estudos uranográficos", que traziam a assinatura: Galileu; o médium foi o Sr. C. F.
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