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quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

-->Sócrates e o Mestre Jesus











O homem, acostumado com as sombras, não pode conhecer, abruptamente, a luz, pois que, assim, o brilho da mesma ofuscar-lhe-á os olhos. Para se adaptar a ela, portanto, faz-se necessário que, paulatinamente, ele vá entrevendo os raios de luz para que a sua pupila, através de reflexos naturais, possa ir se adaptando e a sua retina não sofra prejuízos maiores.
Se isso é verossímil para a luz, igualmente o é para a verdade!
“A verdade é como a luz: o homem precisa habituar-se a ela, pouco a pouco; do contrário, fica deslumbrado”. Por isso, “importa que cada coisa venha ao seu tempo”. [1]
Desse modo, em todas as épocas, hão surgido diversos Espíritos com a missão de revelar parcelas, sempre crescentes, dessa verdade universal, que, em essência, nada mais é do que a Lei de Deus em todo o seu esplendor.
Na realidade, essas Leis do Pai, segundo a Doutrina Espírita, estão inscritas “na consciência dos homens”. Mas esses as ignoraram e as desprezaram, querendo o Criado, desse modo, que Elas fossem relembradas através de diversos mensageiros seus. [2]
Eis porque Albert Einstein tinha razão ao afirmar que tinha “como verdade que o puro raciocínio pode atingir a realidade segundo o sonho dos antigos” [3], já que “todos os que meditaram sobre a sabedoria hão podido compreender a Lei e ensiná-la”.[4]
Notadamente, sem dúvida, foi Jesus quem teve papel de destaque na revelação das essências universais, eis porque é o Mestre dos mestres, o Guia e o Modelo para toda a humanidade[5], uma vez que, consoante às anotações de Emmanuel, sob a Sua orientação misericordiosa e sábia, “laboravam na Terra numerosas assembléias de operário espirituais” [6], e vieram diversos mensageiros seus, os missionários de Deus.
Nesse sentido, a idéia do Cristianismo “foi pressentida muitos séculos antes de Jesus e dos essênios, tendo por principais precursores Sócrates e Platão”. [7]
Sócrates é, pois, apontado por Allan Kardec como sendo o principal precursor de Jesus. E não são, somente, os seus ensinamentos que se assemelham com os do Cristo, como veremos no decorrer deste livro, mas também a sua vida. Em diversos pontos, a trajetória do sábio grego nos lembra o caminho trilhado pelo Messias. Emmanuel, mesmo, chega a dizer que “sua existência, em algumas circunstâncias, aproxima-se da exemplificação do próprio Cristo”. [8]
Se não, vejamos...
Sócrates seria a figura central na história da filosofia. Para tanto, não quis ele vir a Terra através de uma família rica e de um berço de ouro. Antes, tivera na humildade de sua mãe, Fenáreta, que era parteira, e de seu pai, Sofrônico, que era escultor, o local ideal para o seu nascimento.
Jesus seria o Rei de todos os reis da humanidade. Para a sua vinda, contudo, ao invés dos palácios, escolheu encarnar ao lado de seres simples, como os animais, na simplicidade de uma manjedoura, no interior de um estábulo, escolhendo, ainda, como seus pais terrenos, dois seres simples: José, que era carpinteiro, e a suave Maria de Nazaré.
Sócrates, durante o seu desenvolvimento terrestre, não se permitiu ociosidade. E, porque estava no mundo, aprendeu o ofício da escultura com o seu pai. Isso, porém, não o impossibilitou de se dedicar à meditação e de se destacar por sua inteligência e por sua sabedoria.
Jesus, igualmente, durante a infância e a adolescência, aprendeu a carpintaria com o seu Pai, ao mesmo tempo em que se ia notabilizando pelos ensinos que dava nos templos da época.
O sábio grego “julgava que devia servir a pátria conforme suas atitudes, vivendo justamente e formando cidadãos sábios, honestos, temperados − diversamente dos sofistas, que agiam para o próprio proveito e formavam grandes egoístas, capazes unicamente de se acometerem uns contra os outros e escravizar o próximo”. [9]
O Cristo, a seu turno, veio ser a luz do mundo para formar homens de bem, diferentemente de vários cegos da época que guiavam outros cegos.
O filósofo esteve ensinando para todos e ao lado de todos: jovens, como Fedro; velhos, como Crítão; afortunados e aristocráticos, como Platão; mais simples; àqueles que se entregavam aos banquetes... sempre com a mesma serenidade, profundidade, carinho e respeito.
O Nazareno, a seu modo, e ainda mais, viera para todos: para os enfermos; para os sãos; para os jovens, como João; para os velhos; para os pecadores; para os “endemoniados”; para aqueles que se entregavam aos prazeres da carne... sempre com o mesmo amor que lhe caracterizou a personalidade.
Sócrates nada escrevera, ao menos, nenhum escrito deixara à posteridade. Toda a sua doutrina se baseou na palavra e no exemplo de vida que era. Os seus ensinos passaram à posteridade graças aos escritos de seus discípulos diretos, especialmente Xenofonte e o famoso Platão, além de haver outras referências ao sábio na obra de Aristóteles.
Jesus, como se sabe, do mesmo modo, nada deixara escrito. A sua Doutrina estava e está viva através do seu exemplo e do seu verbo de luz. É pelos Evangelhos, notadamente os quatro mais conhecidos e aceitos, que se pode saber a palavra que Ele veio trazer.
Era comum Sócrates, em algumas ocasiões, para se fazer mais entendido à respeito de assuntos complexos, utilizar-se dos mitos, que seu discípulo Platão tão bem soube anotar.
De igual modo, Jesus lançou mão de suas belíssimas parábolas para falar de conceitos grandiosos.
O sábio ateniense, diferentemente de diversos filósofos anteriores e posteriores, nenhuma escola fundara. Não se conhecem, por exemplo, as suas palavras pelo nome “Socraticismo”.
O Messias, de igual modo, nenhuma religião criara. A Igreja Apostólica Romana fora obra dos homens posteriores a Ele. Tanto é assim que, nos tempos primeiros, os seguidores do Cristo eram conhecidos, somente, pelo nome de “irmãos do caminho”, não sendo, naquela ocasião, chamados, como hoje se dá, pelo epíteto de cristãos.
Por ensinar verdades libertadoras e revolucionárias, o grande filósofo sofrera incompreensões por parte dos dominadores da época e fora condenado à morte, por corromper a juventude e por proclamar doutrinas estranhas à mitologia grega, embora fosse inocente. A tranqüilidade foi a tônica maior antes de sua partida para a morada dos justos.
Da mesma maneira acontecera com Jesus, “a quem os fariseus acusavam de estar corrompendo o povo com os ensinamentos que lhe ministrava”[10]. Condenado à morte, encontrara no gólgota o retorno à pátria dos que já estão mais perto de Deus. Tendo, ainda, no silêncio, no perdão e na brandura que lhe eram peculiares a resposta às ofensas que sofrera.
Não foi por acaso, então, que Sócrates fora considerado o ponto máximo da filosofia da Terra. A respeito dele, por exemplo, escreve Herculano Pires: “Sócrates aparece como o delta natural de todo o pensamento filosófico das escolas anteriores; nele, a filosofia se junta, como as águas dispersas se reúnem para formarem o grande espelho de um lago, que reflete o céu e a terra e guarda em seu fundo o resíduo de todas as distâncias percorridas”.[11]
Nesse sentido, ele fora tão grande e tão importante que dividira a história da filosofia em duas partes, antes e depois dele, eis porque os filósofos são considerados, após a sua existência, em pré ou em pós-socráticos.
E com maior intensidade, ainda, não foi sem razão que Jesus fora tão grandioso que não coubera nos calendários da história terrena, dividindo-a em antes e em depois Dele.
Por fim, resta-nos lembrar das palavras sábias de Kardec...
“Aos que considerarem esse paralelo uma profanação e pretendam que não pode haver paridade entre a doutrina de um pagão e a do Cristo, diremos que não era pagã a de Sócrates, pois que objetivava combater o paganismo; que a de Jesus, mais completa e mais depurada do que aquela, nada tem que perder com a comparação; que a grandeza da missão divina do Cristo não pode ser diminuída; que, ao demais, trata-se de um fato da História, que a ninguém será possível apagar.” [12]
Desse modo, na obscuridade que ainda nos encontramos, cabe-nos olhar para o alto e vislumbrar, quem sabe, estas duas estrelas, Jesus, a de primeira grandeza, Sócrates, também de grande brilho, pedindo-lhes que olhem por nós, pequeninos caminheiros, ainda, retardados “das trevas para a luz”.

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