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terça-feira, 29 de setembro de 2009

-->A CRISE DA MORTE


ERNESTO BOZZANO

A CRISE DA MORTE

LIVROS ESPÍRITAS GRÁTIS


http://www.autoresespiritasclassicos.com/Autores%20Espiritas%20Classicos%20%20Diversos/Ernesto%20Bozzano/A%20Crise%20da%20Morte/ERNESTO%20BOZZANO%20A%20CRISE%20DA%20MORTE.htm

O Site vem trazer um grande clássico do Espiritismo a "Crise da Morte" que foi elaborado através de diversos casos estudados por Ernesto Bozzano.

A pesquisa realizada por Ernesto Bozzano são relatos no momento exato da morte e a sua entrada no mundo espiritual, como transcorre ali a existência durante os primeiros tempos após a desencarnação, a afinidade, a força criadora e o poder criador do pensamento.

Comentário:

Este e um tema de grande relevância na qual todos nos iremos passar um dia, pois como todos sabemos a nossa vida aqui no corpo da matéria e perene.

Como será este processo??? Será doloroso??? O que nos espera no mundo espiritual??? Teremos medo da morte??? Ou nada queremos saber sobre o assunto!!!!

As religiões tradicionais usando uma teologia especulativa nos ensinam que quando a pessoa morre terá que aguardar a ressurreição no fim dos tempos o juízo final, na qual vai para o céu ou inferno eterno e depois deste julgamento à alma retomará o próprio corpo antigo que viveu na terra e será totalmente reconstruído.

Ao observar melhor os fatos percebemos que as religiões tradicionais nada respondem ao nosso espírito sobre a questão da morte e ainda mais nos assustam com os terrores da morte, do diabo, inferno.

Acredito que a morte do corpo físico é um mero processo, pois vai depender do maior ou menor desapego que vivemos em nossa vida rotineira, pois aquele que vive para o bem do próximo e não e escravo da matéria vai desenvolver dentro do seu ser um maior poder libertário da alma no momento da morte ou seja não temerá a morte.

O ser que vive e respira para o mal e acredita no nada após a morte vai sentir todo o impacto no momento e após a morte com o desfile de todos terrores de uma consciência culpada.

O Céu e o Inferno existe sim, mais dentro da consciência de cada um, pois em cada ação realizada na vida, vai nos trazer suas conseqüências, pois o nosso mundo possui leis morais inderrogáveis que regem a nossa vida.

Sendo assim queridos amigos busquemos a felicidade do próximo como nos ensina Jesus Cristo e fujamos do mal, pois que ele nos acorrentará a sofrimentos sem fim.

*

"O Amor Cobrirá uma Multidão de Pecados"

(I Pe 4:8).

A CRISE DA MORTE - 1º CASO

Extraio este fato de uma obra intitulada Letters and Tracts on Spiritualism, obra que contém os artigos e as monografias publicadas pelo juiz Edmonds, de 1854 a 1874. Sabe-se que Edmonds era notável médium psicógrafo, falante e vidente. Alguns meses depois da morte acidental de seu confrade, o juiz Peckam, a quem ele muito estimava, deu-se o caso de Edmonds escrever longa mensagem, em que seu amigo morto referia as circunstâncias de sua morte. As passagens seguintes são tiradas da mensagem em questão:
“Se houvera podido escolher a maneira de desencarnar, certamente não teria preferido a que o destino me impôs. Todavia, presentemente não me queixo do que me aconteceu, dada a natureza maravilhosa da nova existência que se abriu subitamente diante de mim.
No momento da morte, revi, como num panorama, os acontecimentos de toda a minha existência. Todas as cenas, todas as ações que eu praticara passaram ante o meu olhar, como se se houvessem gravado na minha mente, em fórmulas luminosas. Nem um só dos meus amigos, desde a minha infância até a morte, faltou à chamada. Na ocasião em que mergulhei no mar, tendo nos braços minha mulher, apareceram-me meu pai e minha mãe e foi esta quem me tirou da água, mostrando uma energia cuja natureza só agora compreendo. Não me lembro de ter sofrido. Quando imergi nas águas, não experimentei sensação alguma de medo, nem mesmo de frio, ou de asfixia. Não me recordo de ter ouvido o barulho das ondas a se quebrarem sobre as nossas cabeças. Desprendi-me do corpo quase sem me aperceber disso e, abraçado sempre à minha mulher, segui minha mãe, que viera para nos acolher e guiar.
O primeiro sentimento penoso só me assaltou quando dirigi o pensamento para o meu caro irmão; porém, minha mãe, percebendo-me a inquietação, logo ponderou: “Teu irmão também não tardará a estar conosco.” A partir desse instante, todo sentimento penoso desapareceu de meu espírito. Pensava na cena dramática que acabara de viver, unicamente com o fito de levar socorro aos meus companheiros de desgraça. Logo, entretanto, vi que estavam salvos das águas, do mesmo modo pelo qual eu o fora. Todos os objetos me pareciam tão reais à volta de mim que, se não fosse a presença de tantas pessoas que sabia mortas, teria corrido para junto dos náufragos.
Quis informar-te de tudo isso a fim de que possas mandar uma palavra de consolação aos que imaginam que os que lhes são caros e que desapareceram comigo sofreram agonias terríveis, ao se verem presas da morte. Não há palavras que te possam descrever a felicidade que experimentei, quando vi que vinham ao meu encontro ora uma, ora outra das pessoas a quem mais amei na Terra e que todas acudiam a me dar as boas-vindas nas esferas dos imortais. Não tendo estado enfermo e não tendo sofrido, fácil me foi adaptar-me imediatamente às novas condições de existência...”
Com esta última observação, o Espírito alude a uma circunstância que concorda com as informações cumulativas, obtidas sobre o mesmo assunto, por grande número de outras personalidades mediúnicas, isto é, que só nos casos excepcionais de mortes imprevistas, sem sofrimentos e combinadas com estados serenos d’alma, é possível atravessar o Espírito a crise da desencarnação sem haver necessidade de ficar submetido a um período mais ou menos longo de sono reparador. Ao contrário, nos casos de morte consecutiva a longa enfermidade, em idade avançada, ou com a inteligência absorvida por preocupações mundanas, ou oprimida pelo terror da morte, ou, ainda, apenas, mas firmemente, convencida da aniquilação final, os Espíritos estariam sujeitos a um período mais ou menos prolongado de inconsciência.
Ponderarei que estas observações já se referem a um desses “detalhes secundários” a que aludi em começo e nos quais se notam desacordos aparentes, que, na realidade, se resumem em concordâncias reguladas por uma lei geral, que necessariamente se manifesta por modos muito diferentes, segundo a personalidade dos defuntos e as condições espirituais tão diversas em que se acham no momento da desencarnação.
Cumpre-se atente, além disso, no detalhe interessante de dizer o morto ter tido, no momento da morte, a “visão panorâmica” de todos os acontecimentos de sua existência. Sabe-se que este fenômeno é familiar aos psicólogos; foi referido muitas vezes por pessoas salvas de naufrágios (publiquei a respeito uma longa monografia nesta mesma revista, no correr dos anos de 1922-1923). Ora, no caso relatado pelo juiz Edmonds, como em muitos outros casos do mesmo gênero, assistimos ao fato importante de um morto afirmar haver passado, a seu turno, pela experiência da “visão panorâmica”, de que falam os náufragos salvos da morte. Isto se torna teoricamente importante, desde que se tenha em mente que o juiz Edmonds não conhecia a existência dos fenômenos dessa espécie, ignorados pelos psicólogos de sua época. Ele, pois, não podia auto-sugestionar-se nesse sentido, o que constitui boa prova a favor da origem, estranha ao médium, da mensagem de que se trata.
Notarei, finalmente, que neste episódio, ocorrido nos primeiros tempos das manifestações mediúnicas, já se observam muitos detalhes fundamentais, concernentes aos processos da desencarnação do Espírito, os quais serão depois constantemente confirmados, em todas as revelações do mesmo gênero. Assim, por exemplo, o detalhe de o Espírito não perceber, ou quase não perceber, que se separara do corpo e, ainda menos, que se achava num meio espiritual. Também o outro detalhe de o Espírito se encontrar com uma forma humana e se ver cercado de um meio terrestre, ou quase terrestre, de pensar que se exprime de viva voz como dantes e perceber, como antes, as palavras dos demais. Assinalemos ainda outro detalhe: o de achar o Espírito desencarnado, ao chegar ao limiar da nova existência, para o acolherem e guiarem, outros Espíritos de mortos, que são geralmente seus parentes mais próximos, mas que também podem ser seus mais caros amigos, ou os “Espíritos-guias”.
Detalhe fundamental também este que, com os outros, será confirmado por todas as revelações transcendentais sucessivas, até aos nossos dias, salvo sempre circunstâncias mais ou menos especiais de mortos moralmente inferiores e degradados, aos quais a inexorável “lei de afinidade” (lei físico-psíquica, irresistível em seu poder fatal de atração dos semelhantes) prepararia condições de acolhimento espiritual muito diferentes das com que deparam os Espíritos evolvidos.
Segundo caso
Tiro este segundo fato do volume de Morgan: From Matter to Spirit (pág. 149). A personalidade mediúnica do Dr. Horace Abraham Ackley descreve, nestes termos, a maneira pela qual seu Espírito se separou do organismo somático:
“Como sucede a um bem grande número de humanos, meu espírito não chegou muito facilmente a se libertar do corpo. Eu sentia que me desprendia gradualmente dos laços orgânicos, mas me encontrava em condições pouco lúcidas de existência, afigurando-se-me que sonhava. Sentia a minha personalidade como que dividida em muitas partes, que, todavia, permaneciam ligadas por um laço indissolúvel. Quando o organismo corpóreo deixou de funcionar, pôde o espírito despojar-se dele inteiramente. Pareceu-me então que as partes destacadas da minha personalidade se reuniam numa só. Senti-me, ao mesmo tempo, levantado acima do meu cadáver, a pequena distância dele, donde eu divisava distintamente as pessoas que me cercavam o corpo. Não saberia dizer por que poder cheguei a me desprender e a me elevar no ar. Depois desse acontecimento, suponho ter passado um período bastante longo em estado de inconsciência, ou de sono (o que, aliás, acontece freqüentemente, se bem isso não se dê em todos os casos); deduzo-o do fato de que, quando tornei a ver o meu cadáver, estava ele em estado de adiantada decomposição.
Logo que voltei a mim, todos os acontecimentos de minha vida me desfilaram sob as vistas, como num panorama; eram visões vivas, muito reais, em dimensões naturais, como se o meu passado se houvera tornado presente. Foi todo o meu passado o que revi, compreendido o último episódio: o da minha desencarnação. A visão passou diante de mim com tal rapidez, que quase não tive tempo de refletir, achando-me como que arrebatado por um turbilhão de emoções. A visão, em seguida, desapareceu com a mesma instantaneidade com que se mostrara; às meditações sobre o passado e o futuro, sucedeu em mim vivo interesse pelas condições atuais.
Eu ouvira dizer os espíritas que os Espíritos desencarnados eram acolhidos no mundo espiritual pelos seus parentes, ou por seus Espíritos-guardiães. Não vendo ninguém perto de mim, concluí que os espíritas se haviam enganado. Mas, apenas este pensamento me atravessou o espírito, vi dois Espíritos que me eram desconhecidos e para os quais me senti atraído por um sentimento de afinidade. Soube que tinham sido homens muito instruídos e inteligentes, mas que, como eu, não haviam cogitado de desenvolver em si os princípios elevados da espiritualidade. Chamaram-me pelo meu nome, embora não o houvesse eu pronunciado, e me acolheram com uma familiaridade tão benévola, que me senti agradavelmente reconfortado. Com eles deixei o meio onde desencarnara e onde me conservara até aquele momento. Pareceu-me nebulosa a paisagem que atravessei; mas dentro dessa meia obscuridade, fui conduzido a um lugar onde vi reunidos numerosos Espíritos, entre os quais muitos havia que eu conhecera em vida e que tinham morrido havia já algum tempo...”
Notarei que no último parágrafo do episódio precedente se encontra um outro dos detalhes secundários habituais, que se diferenciam mais ou menos nas descrições de tantos Espíritos que se comunicam. Esse detalhe achará sua razão de ser nas condições espirituais, bem pouco evolvidas, do defunto autor da mensagem. Geralmente, nas de revelações transcendentais, se lê que os Espíritos dos mortos entram num meio mais ou menos radioso, onde são acolhidos pelos Espíritos de seus parentes. Aqui se vê, ao contrário, que o Espírito comunicante se encontrou em um meio nuvioso, onde foi acolhido amistosamente por dois Espíritos que lhe eram desconhecidos, mas que guardavam afinidade com ele, do ponto de vista das condições espirituais. É fácil de argüir que este aparente desacordo entre as primeiras impressões desse Espírito desencarnado e outras muito mais freqüentes dependa da circunstância de que, como ele próprio o diz, se descuidara em vida de desenvolver em si o elemento espiritual e que os Espíritos que lhe foram ao encontro se achavam nas mesmas condições. Daí resultou que, pela lei de afinidade, um meio de luz não se adaptava às condições transitórias, mas obscurecidas, de seus Espíritos.
De outro ponto de vista, notarei que, também no episódio em apreço, o Espírito que se comunica afirma ter sofrido a prova da “visão panorâmica” de seu passado, prova que, neste caso, em vez de se desenrolar espontaneamente, em conseqüência de uma superexcitação sui generis das faculdades mnemônicas (superexcitação produzida pela crise da agonia, ao que dizem os psicologistas), pareceria antes provocada pelos “guias” espirituais, com o fim de predispor o Espírito recém-chegado a uma espécie de “exame de consciência”. Esta interpretação do fenômeno ressaltará muito mais claramente de alguns dos casos que se vão seguir.
Notarei, finalmente, que este caso, ocorrido em 1857, já contém a narração de um incidente interessante de “bilocação” no leito de morte, seguido do fenômeno consistente na situação que durante algum tempo o Espírito desencarnado conservou, pairando por cima do cadáver. Freqüentes incidentes análogos se encontrarão nas comunicações da mesma natureza; com mais freqüência ainda, são sensitivos que, assistindo à morte de alguém, os descreverão segundo o que perceberam. As obras espiritualistas estão cheias de episódios deste gênero, a começar dos que foram descritos pelo famoso vidente Andrew Jackson Davis e pelo juiz Edmonds, até aos que chegaram ao Rev. William Stainton Moses e à governanta inglesa (enfermeira diplomada) Mrs. Joy Snell, que ultimamente assistiu à produção de fenômenos desta espécie durante uns vinte anos. Ora, quem não vê que o fato das afirmações de videntes, concordantes de modo admirável com o que narram os próprios Espíritos desencarnados, têm inegável importância, uma vez que se confirmam mutuamente? E também, com relação a esta ordem de incidentes, é muito comum que o médium escrevente, ou o sensitivo vidente, estejam na mais completa ignorância acerca da existência de tais fenômenos e da maneira pela qual se produzem no leito de morte. E como o caso com que acabamos de ocupar-nos remonta a 1857, isto é, ao começo do movimento espírita, tudo contribui para que se suponha que nesta circunstância o médium e os assistentes ignoravam tudo o que concerne aos fenômenos de bilocação em geral e, sobretudo, à maneira pela qual se dão com os moribundos.
Terceiro caso
Reproduzo um último caso de data antiga, que extraio do livro do Dr. Wolfe, Starling Facts in Modern Spiritualism (pág. 388). “Jim Nolan”, o “Espírito-guia” do célebre médium Sr. Hollis, que disse e demonstrou ter sido soldado no curso da Guerra de Secessão da América e haver morrido de tifo num hospital militar, responde da maneira seguinte às perguntas de um experimentador:
“P. – Que impressão tiveste da tua primeira entrada no mundo espiritual?
R. – Parecia-me que despertava de um sono, com um pouco de atordoamento a mais. Já não me sentia enfermo e isso me espantava grandemente. Tinha uma vaga suspeita de que alguma coisa estranha se passara, todavia não sabia definir o que se tratava. Meu corpo se achava estendido no leito de campanha e eu o via. Dizia de mim para mim: “Que estranho fenômeno!” Olhei ao meu derredor e vi três de meus camaradas mortos nas trincheiras diante de Vicksburg e que eu enterrara. Entretanto, ali estavam na minha presença! Olhavam a sorrir. Então, um dos três me saudou, dizendo:
– Bom-dia, Jim; também és dos nossos?
– Sou dos vossos? Que queres dizer?
– Mas... que te achas aqui, conosco, no mundo dos Espíritos. Não te apercebestes disto? É um meio onde se está bem.
Estas palavras eram muito fortes para mim. Fui presa de violenta emoção e exclamei:
– Meu Deus! Que dizes! Estou morto?
– Não; estás mais vivo do que nunca, Jim; porém te achas no mundo dos Espíritos. Para te convenceres, não tens mais do que atentar no teu corpo.
Com efeito, meu corpo jazia, inanimado, diante de mim, sobre a tarimba. Como, pois, contestar o fato? Pouco depois, chegaram dois homens que colocaram meu cadáver numa prancha e o transportaram para perto de um carro; neste o meteram, subiram à boléia e partiram. Acompanhei então o carro, que parou à borda de um fosso, onde o meu cadáver foi arriado e enterrado. Fora eu o único assistente do meu enterro...
P. – Quais as sensações que experimentaste na crise da morte?
R. – A que se experimenta quando o sono se apodera da gente, mas deixando que ainda se possa lembrar de alguma idéia que tenha tido antes do sono. A gente, porém, não se lembra do momento exato em que foi tomado pelo sono. É o que se dá por ocasião da morte. Mas, um pouco antes da crise fatal, minha mente se tornara muito ativa; lembrei-me subitamente de todos os acontecimentos da minha vida; vi e ouvi tudo que fizera, dissera, pensara, todas as coisas a que estivera associado. Lembrei-me até dos jogos e brincadeiras do campo militar; gozei-os, como quando deles participei.
P. – Conta-nos as tuas primeiras impressões no mundo espiritual.
R. – Ia dizer-vos que os meus bons amigos soldados não mais me abandonaram, desde que desencarnei até o momento em que fiz a minha entrada no mundo espiritual; lá, tinha eu avós, irmãos e irmãs, que, entretanto, não me vieram receber quando desencarnei. Ao entrar no mundo espiritual, parecia-me caminhar sobre um terreno sólido e vi que ao meu encontro vinha uma velha, que me dirigiu a palavra assim:
– Jim, então vieste para onde estávamos?
Olhei-a atentamente e exclamei:
– Ó avozinha, és tu?
– Sou eu mesma, meu caro Jim. Vem comigo.
E me levou para longe dali, para sua morada. Uma vez lá, disse-me ser necessário que eu repousasse e dormisse. Deitei-me e dormi longamente...
P. – A morada de que falas tinha o aspecto de uma casa?
R. – Certamente. No mundo dos Espíritos, há a força do pensamento, por meio do qual se podem criar todas as comodidades desejáveis...”
Esta última informação, que, no caso de que se trata, remonta a setenta anos atrás, não é apenas um dos detalhes fundamentais a cujo respeito todos os Espíritos estão de acordo; é também a “chave de abóbada” que permite explicar, resolver, justificar todas as informações e descrições aparentemente absurdas, incríveis, ridículas, dadas pelos Espíritos que se comunicam, a propósito da vida espiritual. Em outras obras, já por mim publicadas, tive que me deter longamente sobre este tema muito importante; limitar-me-ei desta vez, pois, a nele tocar, na medida do estritamente necessário.
Esta grande verdade, que nos foi comunicada pelos Espíritos, permite resolvamos uma imensidade de questões teóricas, obscuras, determinadas pelos informes que hão dado as personalidades mediúnicas, relativamente ao meio espiritual, às formas que os Espíritos revestem, às modalidades da existência deles; todas as informações que constituem uma reprodução exata, ainda que espiritualizada, do meio terrestre, da humanidade, das modalidades da existência neste mundo. Essa grande verdade, que resolve todos os enigmas teóricos em questão e que se funda no poder criador do pensamento no meio espiritual, é confirmada de modo impressionante por fatos que se desenrolam no meio terrestre. Trata-se, com efeito, disto: o pensamento e a vontade, mesmo na existência encarnada, são suscetíveis de criar e de objetivar as formas concretas das coisas pensadas e desejadas, do mesmo modo que este fenômeno se realiza no meio espiritual, embora no meio terrestre semelhante criação não se dê senão por intermédio de alguns sensitivos especiais. Aludo aos fenômenos de “fotografias do pensamento” ou de “ideoplastia”, fenômenos maravilhosos, aos quais consagrei recentemente um longo estudo, em que demonstrava, citando fatos, a realidade incontestável e o desenvolvimento prodigioso deles.
Vemos, pois, que, já no mundo dos vivos, o pensamento e a vontade manifestam o poder de se objetivarem e concretizarem numa forma mais ou menos substancial e permanente, ainda que, na existência encarnada, isto se produza sem objetivo e unicamente com o concurso de sensitivos que se achem em condições fisiológicas mais ou menos anormais, correspondendo a estados mais ou menos adiantados de desencarnação parcial do Espírito. Sendo assim, dever-se-ia logicamente concluir daí que, quando a desencarnação do Espírito já não estiver apenas em início e não for transitória, mas total e definitiva, só então as faculdades de que se trata chegarão a manifestar-se em seu completo desdobramento e, dessa vez, normalmente, praticamente e utilmente. Ora, é precisamente o que afirmam as personalidades mediúnicas que se comunicam. Cumpre, portanto, se reconheça que as revelações transcendentais, concernentes às modalidades da existência espiritual, confirmam a posteriori o que se devera logicamente inferir a priori, em conseqüência da descoberta de que o pensamento e a vontade são forças que possuem o poder maravilhoso de modelar e organizar, faculdades que, todavia, não se manifestam senão de maneira esporádica e sem objetivo, no meio terrestre.
Duas palavras ainda acerca de outra circunstância, a de personalidades mediúnicas afirmarem que essas condições de existência espiritual são transitórias e entendem exclusivamente com a esfera mais próxima do mundo terrestre, isto é, com a que se destina aos Espíritos recém-chegados. Esta circunstância não serve só para justificar inteiramente aquelas condições de existência; prova também a razão de ser providencial de tais condições. Imagine-se, com efeito, que sensação de desolação e de desorientação não experimentaria a maior parte dos mortos se, logo depois do instante da morte, houvessem de ver-se bruscamente despojados da forma humana e lançados num meio espiritual essencialmente diverso daquele onde se lhes formaram as individualidades, a que ainda se encontram ligados por uma delicada trama de sentimentos afetivos, de paixões, de aspirações, que se não poderia romper de súbito, sem os levar ao desespero, e onde, sobretudo, se encontra o meio doméstico que lhes é próprio, constituído por um mundo de satisfações temporais e espirituais, de todas as espécies, que contribuem cumulativamente para criar o que se chama “a alegria de viver”. Se imaginarmos tudo isso, teremos de reconhecer racional e providencial que um ciclo de existência preparatória passe entre a existência encarnada e a de “puro Espírito”, de maneira a conciliar a natureza, por demais terrestre, do Espírito desencarnado, com a natureza, da existência espiritual propriamente dita.
O poder criador do pensamento seria de molde a obviar maravilhosamente a este inconveniente; o Espírito, pensando numa forma humana, se encontraria de novo em forma humana; pensando em estar vestido, achar-se-ia coberto de vestes que, sendo tão etéreas como o seu próprio corpo, lhe pareceriam tão substanciais como as vestes terrenas. É assim que o Espírito encontraria novamente, no mundo espiritual, um meio e uma morada correspondentes a seus hábitos terrestres, morada que lhe preparariam os seus familiares, tornados antes dele à existência espiritual. Como se há podido ver no caso que acabo de referir, é a avó do defunto que estaria encarregada de conduzir o neto à morada que o havia de receber. A este respeito, deve-se notar que, quando o Espírito “Jim Nolan” narra ter visto que uma velha vinha ao seu encontro, fora preciso subentender-se que a avó revestira temporariamente sua antiga forma terrena, para ser reconhecida.
Deter-me-ei aí, para me não estender demais nos comentários deste fato; os pontos obscuros, de importância secundária, que ficam sem solução nas considerações precedentes, serão sucessivamente assinalados e explicados, à medida que, nos casos que ainda vão ser citados, se oferecer ocasião.
Com relação ao incidente da “visão panorâmica” que o Espírito “Jim Nolan” relata, observarei que, desta vez, o fenômeno se desdobrou sob a forma de “recapitulação de lembranças”, mais do que sob a de uma “visão panorâmica” propriamente dita. Isto, naturalmente, em nada muda os termos do problema psicológico a ser resolvido. Daí apenas resultaria que o morto, em vez de pertencer ao que se chama em linguagem psicológica “o tipo visual”, pertencia ao tipo especialmente “auditivo-mental”.

Livro: A crise da morte - Ernesto Bozzano
Postado por Jeanne às 16:55
http://conscienciaevida.blogspot.com/2009/06/crise-da-morte-primeiro-caso.html

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